sábado, 20 de dezembro de 2008

Jhor

Christian e Yuri entram num apartamento pobre de subúrbio, o lugar fede a urina de gato, e merda, logo deixa o ceifeiro nauseado...
_Christian, tem certeza que este é o lugar?
_Não confia em mim, Yuri?
_Claro que confio, mas este lugar ta fedendo._Ao dizer isso uma velha passa mal humorada ao lado do mago da morte o encanrado.
_Tome mais cuidado criança, as pessoas desta parte da cidade são extremamente territoriais, claro é tudo que elas tem, chegamos...

Defronte a porta do apartamento 301 Yuri percebe uma ressonância forte porem sutil, com cheiro de maquina e cera de vela, depois de Christian bater mais ou menos quinze vezes a campainha ela se abre com uma figura magra alta com olhos cravados no crânio vestido de pijamas e pantufas do “Rei leão”.

_Desculpem-me eu estava meio ocupado... Entende, bom é você Christian, veio mais cedo que o usual, eu ainda não terminei de rastrear aquele discrepante que me pediu, esses caras são difíceis por que eles nem existem, não tem documento nem contas em bancos.
_Não vim ate aqui hoje para tratar deste assunto, é sobre um outro mais importante, podemos entrar?
_Ah desculpe, digo claro entrem... entrem._ diz o jovem desobstruindo a porta e ficando serio ao ver que provavelmente o assunto que o padre quer tratar é extremamente importante.



_Resumindo já faz um mês que a seita saiu do pais e se movimenta atualmente para o oriente médio?_ Pergunta Christian assentado em uma almofada enquanto toma cha de ervas e fuma Narguilé.
_Exatamente e pelas minhas fontes eles saíram quase que em comboios, parecem estar protegendo algo, sei la, parecia importante._ Ao ouvir isso Yuri não se contem.
_E para onde eles foram? Quando exatamente?...
_Calma cara eu sei quem é você mago da morte Yuri, se eu soubesse realmente tudo isso te diria para meu bem._ Diz o haker pequeno diante de Yuri quase em fúria, porem este mesmo haker ainda é quase dez centímetros maior que Christian, ele retira das mãos do assassino de sua camisa de gola pólo que pelo visto a muito não é lavada, e se ajeita enquanto Yuri se acalma.
_Bom, Richard, eu vou esperar novidades._ Diz Christian finalmente tentando desfazer a tenção causada pela impulsividade de Yuri.
_Se querem saber, eu andei pesquisando que tipo de ritual eles planejam... Provavelmente eles carregam uma lápida sangrentum, e iram oferecer um grande sacrifício a Asmodeus..._Nisso Christian o interrompe.
_Você disse Asmodeus?
_Sim é o nome popular de Aschmedai._ Diz Yuri
_Agora que você disse, é verdade, como eu não percebi, estava distraído demais pensando na circunstancia que não pensei direito no inimigo... Yuri Asmodeus é um dos cinco príncipes do inferno.
_Sei bem disso padre... Continue Richard, por favor.
_Bem como dizia, o ritual necessita de nove meses para ser preparado seis dias para ser iniciado e termina no final da nona hora do nono dia do mês subseqüente, exatamente não sei como se configura este ritual em particular porem sei que com ele será possível tornar a alma de sua esposa e o demônio um so ser, e da forma mais trágica pois é o demônio quem vai imperar.
Todos na sala ficam em silencio, Yuri parece perturbado e Christian parece estar ainda chocado com o raciocínio de enfrentar uns dos mais poderosos demônios, um demônio com idade anterior a sua bíblia, isso é para ele perturbador, por isso quieto em seus pensamentos ele ora para seu Deus pede força e que de força a seus amigos e principalmente que ele olhe pela alma de Eleonor para que ela não se deixe dominar.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Passive ( A Perfect Circle)

Dead as dead can be
The doctor tells me
But I just can't believe him
Ever the optimistic one
I'm sure of your ability
To become my perfect enemy

Wake up, and face me
Don't play dead, cause maybe
Someday I'll walk away and say
You disappoint me
Maybe you're better off this way

Leaning over you here
Cold and catatonic
I catch a brief reflection
Of what you could and might have been
It's your right and your ability
To become my perfect enemy

Wake up(why can't you)
And face me (come on now)
Don't play dead(don't play dead)
Cause maybe(cause maybe)
Someday(someday)
I'll walk away and say
You disappoint me

Maybe you're better off this way(x4)
You're better off this(x2)
Maybe you're better off

Wake up (why can't you?)
And face me (come on now)
Don't play dead (don't play dead)
'Cause maybe (because maybe)
Someday (someday)
I'll walk away and say
You fucking disappoint me
Maybe you're better off this way

Go ahead and play dead (GO!)
I know that you can hear this (GO!)
Go ahead and play dead (GO!)
Why can't you turn and face me?! (GO!)(x4)
You fucking disappoint me!

Passive agressive bullshit(x12)





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Passivo

Tão morto quanto um morto pode estar
O doutor me disse
Mas eu não posso simplesmente acreditar nele
Sempre o único otimista
Eu tenho certeza de sua habilidade
Para tornar-se meu inimigo perfeito

Acorde, e me encare
Não finja de morto, pois talvez
Algum dia eu vá embora e diga
Você me desaponta
Talves seja melhor você sair desse caminho

Debruçando você aqui
Frio e catatônico
Eu tive um breve vislumbre
Do que você poderia e deveria ter sido
É seu direito, e sua habilidade
Tornar-se meu inimigo perfeito

Acorde (porque você não pode?)
E me encare (vamos, agora!)
Não finja de morto (não finja de morto)
Pois talvez (pois talvez)
Algum dia (algum dia)
Eu vá embora e diga
Você me desaponta

Talvez melhor seja você sair desse caminho (4x)
Talvez seja melhor você fora deste (2x)
Talvez você esteja melhor fora

Acorde (porque você não pode?)
E me olhe (vamos, agora!)
Não finja de morto (não finja de morto)
Pois talvez (pois talvez)
Algum dia (algum dia)
Eu vá embora e diga
Você me desaponta pra caralho
Talvez você esteja melhor assim

Vá em frente e finja de morto (vá!)
Eu sei que você pode ouvir isto (vá!)
Vá em frente e finja de morto (vá!)
Porque você não pode virar e me encarar? (vá!) (4x)
Você me desaponta pra caralho!

Besteira passiva agressiva (12x)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Jhor

A manhã esta triste e nublada, Yuri já esta de pé, na verdade não dormiu, pois vem sonhando com Eleonor, ele sempre se sente incomodado com sua disponibilidade de fugir da realidade, já pensou em fazer um ou dois feitiços para amenizar a situação, mas ele sabe que de nada adiantaria... “Um Demônio, só tenho que destruir um demônio,” ele pensa sentado no ponto de ônibus esperando para fazer uma visita a um informante, não deseja ir de moto com receio que alguém possa ter lhe visto nessa mesma no dia do assassinato do empresário, mas não se importa muito com esse tipo de conseqüência, alias ele ser um mago e um assassino lhe rende a marca de combinação fatalmente perfeita, o único inconveniente, para Yuri é que ele ainda é humano, com falhas e orgulho bobo, se não fosse assim ele jamais teria perdido sua esposa, mas também ele jamais teria amado alguém na vida, isso o mantinha perturbado enquanto esperava um ônibus.
_Matar um Demônio, e como se faz isso?_ Uma voz surpreendeu Yuri que se mantinha absorto em pensamentos, que o impediu de observar uma pessoa se aproximar. Um homem de estatura avantajada já de meia idade, com longos cabelos brancos chegava com um sorriso sínico no rosto.
_ Christian! Você, mas como, não havia viajado para Yugoslávia?_Christian era o irmão mais novo de Christofer e sempre um arauto de bons presságios, por várias vezes Yuri em seu treinamento com Christofer se viu muito mais tentado a confiar nas experiências transcendentais de Christian que na experiência de Christofer, ate que o próprio Christian admitiu o valor descomunal do empirismo das batalhas vencidas pelo irmão primogênito.
_É meu amigo, acha mesmo que eu iria ficar preso naquele laboratório da ordem sabendo que você esta aqui passando por tão maus bocados?
_Muito me agrada em ver você velho amigo..._Yuri abaixa a cabeça com uma expressão amarga e sem levantar a fronte prossegue._Esta cruzada é minha, e não posso envolver ninguém nisso, alem do mais a sua ordem, os “discípulos”, jamais te perdoariam se soubessem que você esta ajudando um ceifador como eu, perdoe-me padre mas não posso aceitar sua ajuda.
_Não seja tão fatalista, eu faço o que quero, pois me mandaram escolher meu caminho, esta escrito nas escrituras que eu tenho livre arbítrio, não seja egoísta, pensa comigo, se eu ajudo a destruir um culto ao demônio Aschmedai, não vou estar indo contra os preceitos da ordem.
_Como sabe da estória do demônio?
_Digamos que um pássaro índio me contou em meus sonhos.
_Ikuha, aquele feiticeiro fala demais e se intromete mais ainda!
_Ele assim como nós, e isso inclui Christofer, te amamos como se fosse parte de nossa família, então largue de lado esse seu egoísmo e me ouça: Eu conheço alguém que pode vir a nos dizer como achar o culto, e onde esta sendo retida a alma de Aschmedai, e conseqüentemente de sua esposa, daí podemos tentar a separação das duas.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Aos Libertinos

(texto do Marquês de Sade)

Voluptuosos de todas as idades e de todos os sexos é a vós apenas que ofereço esta obra: nutri-vos de seus princípios, eles beneficiam vossas paixões, e essas paixões, com as quais os frios e insípidos moralistas vos assustam, são apenas os meios que a natureza emprega para que o homem alcance as intenções que ela tem sobre ele; atentai apenas a essas paixões deliciosas; seu órgão é o único que vos deve conduzir à felicidade.

Mulheres lúbricas, que a voluptuosa Saint-Ange seja vosso modelo; desprezai, a exemplo dela, tudo o que contraria as leis divinas do prazer que a acorrentaram durante toda a vida.

Donzelas cerceadas durante um tempo demasiado longo nos laços absurdos e perigosos de uma virtude fantástica e de uma religião repugnante, imitai a ardente Eugênia; destruí, pisai, com a mesma rapidez que ela, em todos os preceitos ridículos inculcados por pais imbecis.

E vós, amáveis debochados, vós que, desde a juventude, não tendes outros freios senão vossos desejos nem outras leis senão vossos caprichos, que o cínico Dolmancé vos sirva de exemplo; ide tão longe quanto ele se, como ele, quereis percorrer todos os caminhos floridos que a lubricidade vos prepara; deixai-vos convencer ao seu ensino de que apenas ampliando a esfera de seus gostos e de suas fantasias, apenas sacrificando tudo à voluptuosidade é que o infeliz indivíduo conhecido como homem, e lançado a contragosto nesse triste universo, pode conseguir semear algumas rosas nos espinhos da vida.

Jhor

Yuri, esta sentado em sua cozinha, tomando um café bem forte, e lendo os jornais de três dias que se acumularam na soleira da porta, é assim que um caçador age, quando suas fontes de informações estão coagidas por alguma coisa que os impedem de fazer contatos, e isso é ruim para os negócios, ele suspira ao ver a capa do jornal: “Empresário do ramo de brinquedos é achado morto na região leste da cidade.”
Deveria ter se sentido orgulhoso por dar fim a um monstro destes, porém ele não foi criado para dar “fins” a monstros e sim para dar-lhes uma nova chance para serem melhores, mas agora ele pensa que não valha a pena se preocupar com estes tipos de vermes, ele não caça mais estes tipos de indivíduos, mas este foi especial, o fato dele ser um pedófilo, a muito tempo ele e sua mulher Sara Eleonor, estavam pensando em ter filhos, mas não teve como pois ele teve que matá-la.
_Sua cabeça dói toda vez que pensa nela não é Yuri?_ Uma mulher vestida de preto entra no recinto portando uma adaga ritualística.
_Demorou pra me achar Olga, mesmo eu estando na mesma cidade.
_Não é bem isso, eu resolvi te dar um tempo... Para esfriar a cabeça.
_Enfrentando as ordens de Christofer novamente mulher, não sabe que um dia ele te mata?
_HUHU este preocupado comigo querido?
_Na verdade não, so quis ser sarcástico.
Ela caminha para sua direção e ele se precipita para o lado bem lentamente.
_Medo de mim?
_Bem que você gostaria, não é mesmo Olga a maior assassina?
_Desculpa Yuri, eu bem não me importo com o que você esta fazendo, alias eu ate admiro, mas não posso deixar que prossiga, sabemos que você sabe onde se encontra a sede do culto à Asmodeus nesta cidade, e não podemos permitir que você vá La para se matar, pois é isso mesmo que você quer, se matar.
Ele pigarreia e diz contendo uma repentina fúria, sabia que esta irritação tão estranha talvez seja pelo fato que provavelmente, a ceifadora esteja certa no que diz, mas ainda sim entre os dentes:
_O que você pode saber sobre isso? Não sabe o que é ter de matar a pessoa mais importante para você, e ainda ter de levantar a cada manha e perceber que a cama em que dorme é fria e grande, grande demais._ Seus olhos umedecem, e ele se pisca sem parar para conter as lágrimas que insistem em descer, não pode se dar ao luxo de fraquejar perante de um inimigo potencial.
_Yuri..._Ela se penaliza._ Acha mesmo que você é a maldita única alma que sofre neste buraco de lama e merda?_Diz ela com visível revolta na voz. Ele a olha espantado com a reação da assassina...
_Acha mesmo que é o único a ter de perder um ente querido em situação difícil? Não querido, não é, deixe-me lhe contar sobre mim, eu já fui mãe Yuri, tive dois dos mais belos filhos que a mãe Rússia já viu, mas não estava escrito que eu poderia ser feliz, querido Yuri, ouve perseguição e eu era apenas uma jovem com dois filhos, e agora viúva. Mataram meu marido quando ele levava o meu filho mais jovem ao parque..._Nesse ponto, a situação se invertera e agora é Olga que chora abertamente, via no rosto de Yuri a face de seu filho mais novo (tinham a mesma idade), a magia dela a deixara com a aparência jovem e bela ate os dias de hoje, mas esta maga já passa dos 40 anos aparentando não ter mais de vinte._Depois de perder tudo não tive escolha a não ser me vender para sobreviver, ate que Christofer me encontrou e me deu a chance de direcionar minha vida a um gral maior de evolução, o que me faz sentir profundamente orgulhosa pois naquela época ele não era alguém que deixaria uma prostituta pagar suas dividas e ascender ainda nesta vida, ele não me matou.
_sente-se honrada, por Christofer ter lhe poupado a vida?
_Obvio que sim, ele me fez entender o quanto a vida é preciosa, e principalmente para mim, pois teria que viver por três pessoas, agora você também tem que viver por ti e por Sara.
_Não você não sabe o que ocorre, eu não posso dizer, mas é por ela que faço isso.
_Se mata, acha mesmo que Eleonor gostaria que você se matasse?
_Vai embora e diga a Christofer, que não pretendo morrer ainda.
_não posso voutar sem você.
_pode ate tentar, mas lhe garanto que não vou chegar a sede da tradição.
Ela o olha espantada, para ela que conhecia muito bem Yuri, isso era uma ameaça, e ele poderia cumpri-la se assim deseja-se.
_Que seja querido, eu vou, mas me prometa que me conta o que é isso tudo que esta fazendo, assim que terminar.
_Claro que conto._Ela lhe oferece um sorriso cúmplice.

domingo, 23 de novembro de 2008

Jhor

Ela amaldiçoa Yuri por ter sido visto nesta região da cidade, não queria andar por estas ruas nunca mais, a região Boemia da cidade e ela odeia este lugar, lhe faz lembrar-se de seu passado, amargo, a vida era cruel com ela naquela época, tinha que se vender para viver, e isso ela não queria lembrar. Olga caminha mais um pouco e é abordada por um cara alto e forte, com um terno preto que diz bem baixo, como se alguém prestasse a tenção neles.
_O que faz aqui maga? Essa região faz parte do território de caça dos Vampiros, somos perigosos, nós podemos te confundir com uma presa.
Ela olha para ele e para cima, o céu da cidade não tem estrelas.
_Sinto muito, não pretendo atrapalhar a orgia dos mortos, mas eu tenho que continuar aqui por enquanto, procuro alguém.
_Me deixa adivinhar, você quer saber onde está o magro que esteve aqui ontem a noite? Alto magro, com traços latinos.
_Sim você o viu?
_Claro aqui é meu território, eu vejo tudo.
_Sabe me dizer para onde ele foi?
_saberia sim, mas o que ganho lhe contando?
Ela para pensa um pouco, saberia que nenhuma sanguessuga faria algo por altruísmo, e a aparência libertina do vampiro, ele não se importava nem um pouco com a beleza dela, “Vampiros não tem sexo”, era isso que dizia seu mentor e ela acredita que pelo menos eles não se importam com isso, logo ela não conseguirá ludibriar o sanguessuga na sua frente com sua beleza.
_Diga então sanguessuga em que posso te ajudar?
_Por enquanto nada, mas quero garantias que vocês não vão pisar por estas bandas novamente._ Ele olha para ela e sorri._Achou que eu iria pedir sua alma?
_Pensei algo parecido. Vamos então me diga onde Yuri esta, e eu garanto que nenhum mago vai pisar nesta área da cidade novamente.
_Certo, apressadinha ele voltou para casa, na área oeste da cidade.
_Bom então eu vou embora, nunca achei que diria isso mas valeu pela ajuda.
Ela nunca imaginou-se agradecendo um vampiro, mas a sempre uma primeira vez, e este provavelmente tinha acabado de se alimentar, ou a conversa não teria sido tão calma, ela já enfrentara alguns sanguessugas famintos e pode dizer que eles não são tão gentis quanto parece, pensando em o que fazer quando achar Yuri, ela pega um taxi, e se dirige para a ala oeste da cidade, um lugar de classe media alta, bem mais agradável que este prostibulo enorme que é este lugar.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Jhor


Ele finalmente resolve ir para casa, mas que casa, aquela que evita pois ela cheira a sua mulher, aquela mesma casa que lhe obriga a lembrar que ele atirou em Eleonor? Como ele pode querer ir para um lugar que lembra que ate agora ele não conseguiu salva-la? Ele não quer esquecê-la. Alem de que a rua não lhe faz bem, a recordação da sua ida a Sodoma lhe rendeu onze cervejas e sete dozes de Conhaque, so para ele descobrir que seu treinamento místico para resistir a toxinas deu muito certo pois ele não sente os efeitos do álcool.
Já em casa ele dorme com seus fantasmas particulares, sonha com sua mulher. Eles conversam uma letra de musica que ele fez a ela, e ela a completou, em um campo lindo verdejante com um mar atrás deles e a brisa suave é como se nada fosse capaz de separá-los:

Eleonor: Ferido com tristezas e dores que não podem ser curadas
Mesmo que os problemas do passado não possam ser apagados, não jogue sua vida fora

A sensação do tocar da sua mão...

Nós o perderemos algum dia?
Eu quero te proteger
E esse seu sorriso que esta desaparecendo
A voz ecoante que me chama vai desaparecendo
Mesmo se apagado pelo vento através dos tempos
Eu irei te encontrar

Ferido com tristezas e dores que não podem ser curadas
Não diga que você não pode sorrir ou que você odeia a humanidade
Tudo o que acontece no futuro incerto tem um significado
Então espere, então virá o tempo em que você perceberá

Como uma pessoa sábia.

Yuri: Me senti tão vazio apenas empilhando um após o outro
Você disse que poderia viver sozinha
Com suas palavras doces
Você atingiu um ponto onde eu não posso te alcançar

Sua mão que eu segurei por alguma simples carinhosidade
Você se lembra?
Aprendendo a dor, você pode ser uma pessoa que pode trazer gentileza para as outras
Faça sua própria vida

Eleonor: Ferido com tristezas e dores que não podem ser curadas
Não diga que você não pode sorrir ou que você odeia a humanidade
Tudo o que acontece no futuro incerto tem um significado
Então espere, então virá o tempo em que você perceberá

Yuri: Como eu posso ver o significado da vida
desaparecendo, você é a única...

Eleonor: Então você não falhará, sua distância de mim
Não diga que você não pode sorrir ou que você odeia a humanidade
Agora é a hora, mesmo se você não pode ver, existe um significado para tudo
Mesmo que os problemas do passado não podem ser apagados, não jogue sua vida fora


Yuri: É melhor que você se esqueça de tudo. Você se lembra... sua diferente vida?
Eleonor: É melhor que você se esqueça de tudo. Você se lembra... que nós não podemos mais voltar

Yuri: É como em tempos de memórias distantes, espero que nós possamos entender algum dia...


Assim que termina ele percebe que o campo se tornara em um cemitério frio e sombrio e que Eleonor não mais estava com ele, o desespero foi completo e mais nada ali importava, ele quis morrer, mas ainda não pode, não sem libertar a alma de sua amada...

Yuri chora copiosamente quando ouve distante e lanquida a voz de Eleonor, ela recita o ultimo verso da musica:

"Você é para mim assim como sou para Ti"

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Jhor


Ele havia a pouco reencontrado o rastro de sua mulher Eleonor, uma cidade pequena que seu contato com os membros da ordem de Salomão disse havia sido tomada pelo culto à Aschmedai, um
demônio hebreu que atualmente tenciona a retomar a parte da terra que lhe pertence. Este mesmo culto que seguestrara sua esposa a um mês.
Yuri chega ao aeroporto de Bagdá e se livrou do enjoo do vôo, e aprontou-se para a viagem ate as ruínas da Babilônia e conseguentemente ate as de Sodoma. E assim foi.
Dois dias de viagem a cavalo pelo deserto árabe, e ele chega ate uma região montanhosa que é cortada por um belo rio, o cenário muda completamente de deserto para pianice verdejante, e ele continua. Ate as primeiras formações antigas, aqui atrás das montanhas fora existiu as duas cidades irmãs bíblicas Sodoma e Gomorra.
Não havia nem sete horas que ele havia passado pelo vilarejo que os Salomônicos mencionará e ele havia sido completamente desimado.
_Pelos deuses Yuri, eles mataram todos._ Diz Ikuha o índio feiticeiro e sentinela do sonhar, ele tenta conter seu estomago pois o massacre havia sido geral e os corpos das crianças e mulheres jaz acima das pilhas._As crianças... Tantas... Mortas, que barbare.
Porem a morte acompanha os ceifadores onde quer que vá, e não é diferente de Yuri. Isso garante aos ceifeiros um título de cruéis e incenciveis mesmo que na realidade é muito mais dura, eles são frios por que precisam ser, é deles as batalhas mais sanguinolentas, são eles que presenciam os piores massacres, e são deles a parte de julgar e devolver almas sofredoras na terra para o ciclo natural da existência, por isso enquanto o apache observa indignado o cenário, Yuri o estuda com minucias de um bom cirurgião.
_Observe Ikuha, eles estão despidos e ainda pode-se observar secrementos em alguns corpos inclusive das crianças, isso significa que eles voltaram este povo para a era de Sodoma, isso pode muito bem ser um ritual cerimonial para trazer Aschmedai de volta a este plano, se eu estiver certo há chances de estarmos atrasados.


O encontro com os acólitos do culto foi explosivo, Yuri, guerreara como um verdadeiro anjo vingador que e rapidamente os sentinelas da comitiva deste culto admirável caíram perante as facas de Yuri, os golpes certeiros mostraram que não havia outro alvo para estas laminas a não ser a garganta de cada membro da seita. Mesmo com tamanha destreza ele não pode evitar que os gritos dos mortos no combate acordassem o resto do grupo.
Muito sangue rolou, Yuri fora atingido quatro vezes, e acertou setenta e duas, e a cada uma delas havia um novo corpo na pilha, mas ainda restavam muitos, o indígena se mostrou igualmente bravo em combate, ate que com a aproximação da aurora, surge por entre os soldados acólitos e monstruosos servos de Aschmedai uma figura feminina que de inicio Yuri não sabia de que tratava, mas depois de pouco tempo o obvio se instala nas retinas dele... era Eleonor, sua mulher, e era ela a comandar estes diabos.
A distração surge um mal efeito pois ele é atingido pela quinta vez, e ele cai, é imobilizado ate o Eleonor se aproximar segurando um punhal cerimonial, dar-lhe um beijo que neste instante Yuri soube que não se tratava mais de Eleonor, e rasga lhe o canto esquerdo do rosto com o punhal, através dos lábios de sua mulher o demônio Aschmedai sorria.

Jhor

A larga avenida movimentada a noite, em um dos maiores centros metropolitanos do mundo, os carros cortam a rua mas tudo que se presencia são apenas fleches de luz, como estivesse em “fast foward”, não melhor é ele, ele esta em câmera lenta. Desde o assassinato do magnata pervertido ele não dorme, nem volta para casa. Ele tem uma casa? Não, não mais, não existe um lugar para um homem como ele no mundo, um monstro assassino que não deseja redenção, um juiz executor, um ceifador desgarrado que não aceita mais os telefonemas de sua ordem, nem de Christofer seu mentor e amigo. De ninguém...
Seu Daemon esta em silencio desde que ele resolveu buscar vingança, mas a quem ele deve matar? A quem jogar a culpa da morte de sua esposa? Não foi ele a puxar o gatilho? Ele não sabe responder a estas questões, logo deseja eliminar o culto ao demônio que amaldiçoou a alma dela.

Ele para num bar e pede uma cerveja, não há mais por que tentar manter uma vida extremamente saudável... ele olha para o copo dourado e é tomado por devaneios que o remete ate o dia em que reencontrou sua mulher na liderança deste culto:

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Andando em Copacabana

Oswaldo Montenegro

Eu tava andando em Copacabana
Assim com jeito de fim de semana
E vi alguém virando um brâmani oriental
Entrei num bar pedindo alguma Brahma
Achei perfeita a confusão que emana dessa terra
E achei você meio sem sal
Não é que seja uma visão sacana
Mas você, menina, até hoje se ufana
De ter lido Goethe no original
Dispense a carta, mande um telegrama
Chame de orgasmo o que sentiu na cama
E vá rever Viena nesse carnaval
Eu acho leve o tal rock pesado
Acho que ser ou não se ser viado tá ultrapassado
E não me leve a mal
Eu continuo em Copacabana sem saudades suas
Acabou a grana e esse nosso amor que eu já achei bacana
Chega ao seu final
Mudei de tom pra ver se a coisa muda
Mas a melodia hoje não me ajuda
Ai meu Deus, valei
Meu São Jobim me acuda, que esse tom tá mal
E ainda que pese na tua balança
Aquela velha frase que quem corre alcança
Hoje eu vou de táxi, que correr cansa
E eu não tô legal
Eu não tô legal
Eu não tô legal

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Jhor

Christofer mais uma vez rodeia o imenso cômodo classificado como sala de reuniões no apartamento mantido pela ordem local, ele esta nervoso e muito agitado, seu discípulo esta em evidencia, e isso perturba o inglês que sempre amou o icognato, e como todo bom inglês sempre foi muito rígido quanto as regras e tradições da ordem: “não sobrevivemos ate hoje sento incautos.” Ele costuma dizer em seus discursos para os jovens iniciados.
_Ainda preocupado com Yuri? Sabe que não deveria, desde jovem ele já provou que sabe se cuidar._ Uma voz melodiosa e sedutora feminina cruza a sala e arranca Christofer de seus devaneios, era Olga, uma perfeita russa de simetrias bem feitas e perigosas já que ela sustenta o titulo de melhor assassina da região.
_Obviamente, ele esta perturbado desde a morte de Sara. Seus feitos já saíram nos noticiários três vezes somente hoje, você assistiu? Ele partiu aquele pedofilo em dois e o castrou ainda vivo, estes métodos são contra nossas tradições de aplicar a “boa-morte”, alem do mais eles já o chamam de vigilante, daqui a pouco já vai haver ate gibis para ele.
_Ta concordo que ele esta um pouco cruel, mas ele esta fazendo o correto e isso que importa no final de tudo, e sem falar que nesta altura das coisas apontar-nos, é uma coisa que a imprensa não vai fazer.
_Ainda sim deveremos encontrá-lo antes que seja tarde, a alma dele pede ajuda, vamos ter de recuperá-lo do Jhor. Sem falar que o orgulho mago já deve ter praticamente cerrado os olhos dele. Daqui a pouco ele começa a ficar perigoso para si mesmo.
_Que raro desta vez fui convocada por um superior, não para matar e sim para ajudar a viver, que coisa!
_Chega de brincadeira Olga e eu sei que ele é importante para você também, lembre-se que eu vejo sua áurea.
_Você é muito rude as vezes, mas isso é por que você é inglês.
_Comesse investigando onde ele esta morando depois reporte, daí vamos planejar uma forma eficaz de abordagem... Dispensada, por hora.
_Sim senhor..._ Olga se retira do ressinto resignada com a forma em que Christofer impôs a hierarquia para subjulgala a sua vontade.

Jhor

“Que inferno, tem mais de dois anos que estou com essa merda toda ate o pescoço, esses bostas não valem nada e só me atrasam. E pensar que eu era tão inocente ao pensar que a humanidade tinha recurso... Como fui inocente, só existe uma maneira de curar o câncer... é matando ele.”
Yuri olha para seu alvo: homem idoso calvo e gordo sentado na sua poltrona favorita, enquanto assiste TV e bebe cerveja, um empresário típico, que virou alvo de um assassino que o observa da janela do edifício enfrente, com binóculos e luvas. Mas Yuri justifica sua ação com o fato deste homem ser um pouco mais inescrupuloso que um empresário comum, ele tem predileções sexuais bem “diferentes” como receber oral de crianças, alem de manter sete destas em cativeiro sobre torturas tanto psíquicas quanto físicas.
Yuri da mais uma olhada no relógio, “ele esta atrasado” são exatas 23:38pm e o homem não se move da maldita poltrona, “Mais quinze minutos e vou esquecer toda minha política de sutileza, e vou obrigar o pervertido a dizer onde é o cativeiro, isso pouco antes de lhe aplicar uma gravata russa.” O ceifador pensa isso enquanto limpa os olhos do suor provocado pelo binóculo, nesse instante o homem se levanta e anda, veste o roupão e vai ate a saída, é devidamente seguido por seu observador silencioso...
O Sedã do empresário é seguido silenciosamente pela moto de Yuri ate chegar em um bairro bem distante do centro da cidade onde se encontravam. Uma casa simples aberta por uma mulher somente de roupas intimas deixa o homem entrar.
Yuri com a moto ainda em movimento sorri, mesmo tendo feito isso mais de uma centena de vezes não pode deixar de se sentir satisfeito por ter conseguido, já vinha seguindo o “balofo” a muito tempo, hoje é sua vez de sentir um pouco de justiça...

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Conto 1: Jhor


Ele olha para ela, imobilizada no chão de joelhos, com olhar de medo em direção a ele.Ele reflete sobre o que esta havendo aqui: “será que ainda há tempo? Será que não existe outra forma de saúva-la? Ela não tem culpa sua essência fora corrompida a mais de mil anos ela nasceu assim.”.Ele caminha lentamente em direção a ela ainda em devaneios, e ela treme pois sabe que ele é um ceifador, um mago da morte, especialista em assassinatos e que geralmente não perdoam um alvo. Ele por sua vez sabe bem a resposta de suas indagações e elas são as piores o possível, as lágrimas fecham seus olhos, ele se concentra e retira sua arma do paletó, esta tão indesejável companheira e esta noite ela se encontra ainda mais fria, gelada, como o machado do carrasco, um machado Magnum 44 negra, importada especialmente para ele, como colecionador... Ele resignado se inclina para ela que o evita se afastando, a imagem dela se afastando o marca profundamente, a mulher que ele sempre amou e foi fiel agora o teme, e com razões para tal, mas tanto ele quanto ela sabem bem o motivo disso.
_Você se arrepende de tudo? Maga infernal conhecida como arauto?_ Agora os olhos dela brilham com força negra, e ele reconhece que a mulher que já amou morreu a muito tempo. Ela não reage.
_Juro meu amor, vou matar o demônio que a sentenciou e eu vou puni-lo e então farei com que você renasça para uma vida sem trevas.
Ao dizer isso ele se levanta com lágrimas deixando seus olhos com um brilho de amargura e revolta, seu braço direito leva sua arma ate seus lábios e ele sussurra: _Seja mais uma vez minha justiça._ Olha para sua mulher e vê um demônio, com a habitual dureza de um assassino frio diz com um tom seguro e duro: _Eu com meus poderes te julgo, sentencio e executo, te dou uma nova chance te devolvo a trama para que assim renasça como alguém puro._ Ele beija a arma, e volta a ser só mais um homem amargurado, olha para o lado enquanto sua arma se vira para cabeça da maga, ele sente o tambor girar e o gatilho ficar mais duro, uma lágrima se solta fugitiva e rola em sua maçã do rosto, fazendo seu coração explodir e congelar, e sem que ele espere o som ecoa por todo galpão que fica no quais, logo seguido por algo caindo pesadamente e mole no chão. Quando a coragem permite que ele olhe ela já se encontra numa enorme poça de sangue.
Ele abaixa a cabeça e sai, mais frio, mais perto do demônio que acabara de destruir que ele mesmo pode imaginar, na entrada do galpão seu amigo indígena o aguarda.
O Índio tentar fazer algo, coloca a mão em seus ombros mas é bruscamente repelido: _Não há tempo índio, faça sua parte._ ele diz ascendendo um cigarro.
O Índio entra e pouco depois tudo explode e do meio das chamas ele sai segurando uma redoma que conte uma flor um lírio.
_Aqui esta a alma de sua mulher, não a deixe partir pois ela voltará com o demônio ainda impregnado nela, se tem certeza que fará assim leve-a contigo e quando estiver condições a liberte, esta jornada não é somente dela é sua também.


Assim tudo veio parar onde estamos...

Trecho do Livro: A Canção da Espada | Bernard Cornwell

- O que o morto diz? - perguntou Gisela. Era minha mulher e mãe de meus dois filhos.

Æthelwold não respondeu imediatamente, talvez porque acreditasse que uma mulher não deveria participar de uma conversa séria, mas meu silêncio lhe disse que Gisela podia falar em sua própria casa e ele estava nervoso demais para insistir que eu a mandasse embora.

- Ele diz que eu deveria ser o rei - admitiu baixinho, depois me olhou, temendo minha reação.

- Rei de quê? - perguntei em tom chapado.

- De Wessex, claro.

- Ah, de Wessex - repeti, como se nunca tivesse ouvido falar desse local.

- E eu deveria ser o rei! - protestou Æthelwold. - Meu pai era o rei!

- E agora o irmão de seu pai é o rei - disse eu - e, os homens dizem que ele é um bom rei.

- Você diz isso? - desafiou ele.

Não respondi. Era bem sabido que eu não gostava de Alfredo e que Alfredo não gostava de mim, mas isso não significava que o sobrinho de Alfredo, Æthelwold, seria um rei melhor. Æthelwold, como eu, tinha quase 30 anos, e havia ganhado reputação de bêbado e idiota libidinoso. No entanto, realmente tinha o direito de reivindicar o trono de Wessex. Seu pai havia de fato sido rei, e se Alfredo tivesse um mínimo de bom senso mandaria cortar a garganta de seu sobrinho até o osso. Em vez disso, confiava na sede de Æthelwold por cerveja para impedi-lo de causar problema.

- Onde você viu esse cadáver vivo? - perguntei, em vez de responder à sua pergunta.

Ele balançou em direção ao lado norte da casa.

- Do outro lado da estrada. Logo do outro lado.

- Da Wæclingastræt? - perguntei, e ele assentiu. Então ele estava falando com os dinamarqueses, e não só com o morto. A Wæclingastræt é uma estrada que parte de Lundene em direção ao noroeste. Inclina-se atravessando a Britânia e terminando no mar da Irlanda, logo ao norte de Gales, e tudo ao sul da estrada era supostamente terra saxã, e tudo ao norte ficava na mão dos dinamarqueses. Essa era a paz que tínhamos naquele ano de 885, mas era uma paz com uma cobertura espumante de escaramuças e ódio.

Æthelwold assentiu.

- O nome dele é Bjorn - disse. - Era um skald na corte de Guthrum e se recusou a virar cristão, por isso Guthrum o matou. Ele pode ser invocado da sepultura. Eu vi.

Olhei para Gisela. Ela era dinamarquesa, e a feitiçaria descrita por Æthelwold não se parecia com nada que eu conhecera entre meus colegas saxões. Gisela deu de ombros, sugerindo que a magia era igualmente estranha para ela.

- Quem invoca o morto? - perguntou.

- Um cadáver recente - disse Æthelwold.

- Um cadáver recente? - perguntei.

- Alguém deve ser mandado ao mundo dos mortos - explicou ele, como se fosse óbvio - para encontrar Bjorn e trazê-lo de volta.

- Então eles matam alguém? - perguntou Gisela.

- De que outro modo podem mandar um mensageiro aos mortos? - perguntou Æthelwold em tom belicoso.

- E esse tal de Bjorn fala inglês? - perguntei. Fiz a pergunta porque sabia que Æthelwold falava pouco ou nenhum dinamarquês.

- Ele fala inglês - respondeu Æthelwold, carrancudo. Não gostava de ser questionado.

- Quem o levou até ele?

- Uns dinamarqueses - disse ele vagamente. Dei um risinho de desprezo.

- Então uns dinamarqueses vieram e lhe disseram que um poeta morto queria falar com você, e você humildemente viajou para a terra de Guthrum?

- Eles me pagaram com ouro - respondeu Æthelwold defensivamente. Ele vivia com dívidas.

- E por que você veio falar conosco?

Æthelwold não respondeu. Ficou se remexendo e olhou para Gisela, que estava fiando lã em sua roca.

- Você vai à terra de Guthrum - insisti -, fala com um morto e depois vem me procurar. Por quê?

- Porque Bjorn disse que você também será rei. - Æthelwold não havia falado alto, mas mesmo assim estendi a mão para silenciá-lo e olhei ansioso na direção da porta, como se esperasse ver um espião ouvindo na escuridão do cômodo ao lado. Eu não tinha dúvida de que Alfredo possuía espiões em minha casa, e achava que sabia quem eram, mas não estava totalmente certo de ter identificado todos, motivo pelo qual me certificava de que todos os serviçais estivessem bem longe do cômodo em que Æthelwold e eu conversávamos. Mesmo assim não era sensato dizer essas coisas em voz alta. Gisela havia parado de fiar a lã e estava olhando Æthelwold. Eu também.

- Ele disse o quê? - perguntei.

- Disse que você, Uhtred - continuou Æthelwold mais rapidamente -, será coroado rei da Mércia.

- Você andou bebendo?

- Não. Só cerveja. - Ele se inclinou para mim. - Bjorn, o morto, deseja falar com você também, para contar-lhe seu destino. Você e eu, Uhtred, seremos reis e vizinhos. Os deuses querem isso e mandaram um morto me dizer. - Æthelwold estava tremendo ligeiramente e suando, mas não estava bebendo. Alguma coisa o havia amedrontado para ficar sóbrio, e isso me convenceu de que ele falava a verdade. - Eles querem saber se está disposto a se encontrar com o morto, e se estiver, mandarão chamar você.

Olhei para Gisela, que meramente me olhou de volta, com o rosto inexpressivo. Encarei-a, não esperando resposta, mas porque ela era linda, linda demais. Minha dinamarquesa morena, minha linda Gisela, minha jovem esposa, meu amor. Ela devia saber o que eu estava pensando, porque seu rosto comprido e sério foi transformado por um sorriso lento.

- Uhtred será rei? - perguntou ela, rompendo o silêncio e olhando para Æthelwold.

- É o que diz o morto - respondeu Æthelwold em tom de desafio.

- E Bjorn ouviu isso das três irmãs. - Ele queria dizer as Fiandeiras, as Norns, as três irmãs que tecem nosso destino.

- Uhtred será rei da Mércia? - perguntou Gisela, em dúvida.

- E você será a rainha - disse Æthelwold.

Gisela me olhou de novo. Tinha uma expressão interrogativa, mas não tentei responder ao que sabia que ela estava pensando. Em vez disso, estava refletindo que não havia rei na Mércia. O antigo, um vira-lata saxão com coleira dinamarquesa, havia morrido e não existia sucessor, enquanto o reino propriamente dito estava dividido entre dinamarqueses e saxões. O irmão da minha mãe fora ealdorman na Mércia antes de ser morto pelos galeses, por isso eu tinha sangue mércio. E não havia rei na Mércia.

- Acho que é melhor você ouvir o que o morto diz - observou Gisela seriamente.

- Se eles mandarem me chamar - prometi -, irei. - E iria mesmo, porque um morto estava falando e queria que eu fosse rei.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Uma Falcione (espada Arabe)

Assim vejo

O que ando a procura?
Ando com pernas ja bambas e fraquejantes
Minha espada mudou e em noites frias assim me sinto
Mas não existe noites frias
Apenas calor de batalhas
Jamais travadas


Quero dormir
Quero Sonhar
Quero um lugar


(Paulo "Eu" Mendonça)



Desculpem-me
Eu ando muito canssado é por isso que nescessito de desabotoar o paleto (pois o sobretudo ja tirei a muito), ando sem paciencia... Dizem-me que isso é amadurecer, mas por Deus como isso é chato ( não suporto metade das conversações de meus circulos sociais ), não bebo mais, o que me deixa ainda mais chato, fumo muito o que me deixa doente e chato, a musica que ouço ninguem ouve, mas continuo...

Por que?

Por que alguem me disse que é assim mesmo. Esse alguem foi eu mesmo, me valendo da peculiaridade do signo de gemeos ou de uma pretença esquizofrenia.

Bom muitas vezes eu me sinto um peixe fora d'agua e uma grande vontade de fugir, dai subo na minha torre mais alta (lembrem-se do sentimento épico) da fortaleza que criei para isolar-me e me manter prisioneiro, e bebo um vinho fino discutindo comigo mesmo meus pontos de vista sobre a criação (é incrivel o dom que tenho de discordar de mim mesmo).


Acho que sou normal no fim de tudo.

O CORVO de Edgar Allan Poe


Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu’ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P’ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi…" E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.

Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp’rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu’ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á… nunca mais!

Traduzido por Fernando Pessoa

domingo, 2 de novembro de 2008

Sonhos e Pesadelos

Nada com o que reclamar de meus sonhos, o que me atrapalha é a quantidade assustadora de pesadelos. É preciso ter força viu, continuo saeguindo entre trancos e barrancos, me desentoxicando de umas coisas e me viciando em outras.

Bom na verdade é que ha muito tempo desejo este blog...

So agora eu tenho.
Por que so agora?
Por que sou muito muito chato mesmo

Bom quero ver se um dia aprendo a viver como alguem comum, com meus amigos, com meus antigos afetos e com os proximos (ou viro padre pq é mais facil).

Se serei um bom proficional. Viver sozinho e sair das asas da familia. Huhu ano que vem se Deus quiser (se ele num tiver afim vai assim mesmo).

Bom o problema são os pesadelos. Mas esses se resouvem com um grito e virar pro canto e pegar um sonífero (quero ver seonhar ou ter pesadelos com soníferos)

Prólogo A Biblioteca

A espada corta o ar num zumbido de vento, atingindo a mesa de experimentos de Zion. O velho mago imortal esquivou-se como pôde, mas não conseguiu evitar que a espada de Átila dividisse sua mesa ao meio. À sua frente, empunhando a espada como um guerreiro, o poderoso necromante cintila no olhar um ódio devastador:
— Como pode querer me expulsar da Biblioteca, Zion, depois de tudo o que fiz em prol desse acervo e dessa fortaleza? – bravio Átila, trovejando sua voz como um deus enfurecido. Erguendo-se, Zion caminha calmamente em sua direção, criando na palma da mão estendida uma luminosidade amarelada:
— Subverteste nosso intuito, Átila. Essa fortaleza que chamamos Biblioteca foi criada para guardar todo o conhecimento que existe, não para disseminá-lo. O saber traz sofrimento e dor, não percebe? A ignorância é e sempre será o melhor caminho para a felicidade.
Os olhos negros de Átila brilham. Por um segundo, Zion recua. Sabe que o amigo desenvolveu o poder e pretende usa-lo para fins próprios.
— O conhecimento que encerras aqui é poder, Zion. Não irá guardá-lo apenas para si.
— Suas intenções não são nobres, Átila.
— E o que é nobre para ti, caro mago? Trancar numa fortaleza todo o poder do mundo?
— Ao menos assim os povos seguirão em paz, necromante. A ganância pelo poder leva o homem a explorar mundos além de sua alçada.
— Então é isso que temes? Que os povos saiam desse minúsculo pedaço de terra decadente e conheça outros lugares? Teme não poder aguardar em sua Biblioteca o conhecimento que está por vir? – grita Átila, golpeando sua espada com força desumana. Esquivando-se a muito custo, Zion lança feixes de luz em direção ao antigo colega, acertando sua espada. A pesada lâmina gira no ar e bate violentamente contra a parede da sala.
Zion se aproxima do amigo caído, energizando um enorme foco de luz na palma da mão direita:
— Seu culto ao poder e a destruição não são mais bem-vindos em minha Biblioteca, Átila. Suma de minha frente ou farei de você um mago morto.
Rangendo os dentes de raiva, Átila mais uma vez aquece o tom dos olhos com uma ameaçadora energia negra.
— Vou além desse mundo, Zion. E o mundo pagará pelo seu erro. Guarde essas palavras.
E antes de desaparecer no ar, Átila invoca palavras que Zion conhece muito bem. Palavras poderosas que fizeram o ar da sala explodir numa grande luz branca, mas que depois deixou tudo negro como à noite.
O poderoso mago imortal estava cego para todo o sempre.
A última visão que os olhos de Zion tiveram foi o rosto enfurecido de Átila, jurando vingança por ter sido expulso da Biblioteca que ajudou a construir.
Zion senta-se no chão, tentando acostumar-se com seu novo estado e encontrar os destroços de sua mesa. Achando-a, procura por um antigo livro que conhece muito bem. O livro das profecias.
Tateando sua tão familiar sala de leitura, senta-se numa outra mesa de canto, conjurando mentalmente a presença de uma de suas criaturas mágicas.
Em poucos instantes, Zion sente a presença de seu amigo fiel, um construto de luz e fogo.
— Reúna o Conselho, elemental do fogo. Temos um grande problema. Diga a eles que nossa Biblioteca deverá ser fortalecida e ninguém jamais deverá ter acesso a essas estantes. O poder que habita esses livros é prejudicial a todos que caminham sobre a terra.

Isso foi á mais de mil anos.

Parte 1 O Continente

— Contam os antigos que ouviram de seus avós essas lendas contadas desde sempre entre todos os povos... -dizia o velho Almodóvar, tremendo em sua bengala de pinheiro. Ao seu redor um círculo admirado de crianças atentas, que exclamaram em uníssono:
— HOOOOOOO...
O velho sorri e continua a história, puxando os detalhes de sua antiga e já debilitada memória:
— Meu avô contava que no princípio era apenas a Deusa e a Deusa criou o mundo em que vivemos – gesticula o velho, abrindo os braços como se abraçasse toda a Continente — Entediada, a Deusa deu a luz a dois dragões...
— Eldora e Karveck!!! – respondem as crianças num coro de quem conhece de cor, mas não se cansam de ouvir essa mesma história.
— Eldora e Karveck, os Grandes Dragões. Kerveck é um dragão negro e representa o aspecto maligno da criação da Deusa...
— E Eldora representa os mocinhos... — completa uma outra voz atrás das crianças. Todas elas se viram e se deparam com um nobre guerreiro apoiado em sua espada, reluzindo sua armadura dourada ao sol. — Ainda não se cansou desse maniqueísmo, vovô?
— Deveria ter mais respeito para com as lendas de nosso povo, Lambech.
— Mas eu tenho vovô. -diz o guerreiro, sentando-se no chão entre crianças admiradas. — Só acho que as crianças deveriam estar na catequese há essa hora.
— A catequese é chata, Lambech! Preferimos o velho Almodóvar!- grita uma das crianças, sacudindo uma espada de madeira no ar, fingindo matar um monstro com um golpe certeiro.
Lambech sorri. Esse garoto animado o faz lembrar o quanto ele também odiava a catequese e só queria viver aventuras com seus amigos. Sempre achou essa história de Deusa muito chata, e é de se admirar que hoje esteja ocupando um cargo tão próximo da religião. Como Guardião, é o responsável pela segurança da Sacerdotisa, a autoridade máxima do Continente (tanto política quanto religiosa). Cargo esse que exerce com exímia devoção, mais por amor à Sacerdotisa que à deusa em si.
Lysolda é sua grande paixão desde os tempos de catequese, quando ele era só um aluno problemático e ela era a grande iniciada na religião. A grande predestinada ao trono do Continente.
— A Cruzada sairá essa tarde, vovô. Vim me despedir do senhor e pedir sua bênção.
O velho se esforça para levantar, e todas as crianças o ajudam. Sob o olhar atento dos pequenos, Almodóvar caminha rumo ao neto com seus passos arrastados de quem caminhou demais na vida. Os olhos do velho expressam uma sabedoria milenar, apesar de não ter de fato mais que 80 anos.
— Meu neto, sabes que essa empreitada é uma heresia, não?
— Puxa vovô, não me venha de novo com essa história.
— A Deusa nos colocou nesse pedaço de terra porque aqui é nosso lugar. É aqui que devemos ficar. Além do mar esconde perigos mortais. Estamos protegidos aqui.
— Esta terra já não nos suporta, vovô. Somos muitos e não há mais terras e recursos para tanta gente. O senhor pode notar que estamos sufocados aqui, precisamos expandir e colonizar novas terras.
— Não, não precisamos. E vamos nos arrepender dessa ambição.
Lambech ergue a espada e embainha num gesto rápido, arrancando exclamações admiradas das crianças.
A tarde chega com ventos do sul, prenunciando o inicio da grandiosa empreitada. O palácio esta movimentado, mais que o de costume. As donzelas da corte estão papagaiando algo sobre a partida da sacerdotisa Lysolda, elas dizem que ouviu que os conselheiros sugeriram que ela fosse à embarcação para marcar os interesses da religião nesta aventura.
Lysolda se encontra descansando em seus aposentos, pela ultima vez. Ela se levanta e olha pela janela, que exibe uma lindíssima vista para o porto de Carakamos, o porto que outrora servia apenas para atracar os barcos pesqueiros. Agora está movimentado com a esplendida e gigantesca nau que se estende por mais de cem metros de proa e vinte de altura, com velas gigantescas e brancas que trazem no centro o brasão do império da Deusa terra.
Lysolda, ao olhar este barco colossal, se sente minúscula e extremamente insignificante.
Arrepende-se um pouco por ter aceitado esta aventura, é quase loucura. Mas ao olhar para o porto novamente, sente-se mais segura ao ver o botânico do palácio. O sábio elfo Sianodel está se preparando para embarcar. “Como sempre, mestre Sianodel é muito cauteloso. Deve estar embarcando mais cedo para garantir que nada falte à viagem”.
Ela pensa e sorri agora mais calma (embora em seu coração ainda se esconda o verme do medo, algo na terra lhe aplica um mau pressentimento).
Lambech esta atrasado e corre com suas vestes de nobre, mas se sente pouco confortável nestas indumentárias pesadas que lhe faça lembrar sua armadura de batalha (que por sinal foi para o navio junto com seus outros pertences), ele finalmente chega ao porto onde os tripulantes e futuros exploradores estão se reunindo num burburinho ensurdecedor.
Os tripulantes lhe prestam continência e o olham com os rostos ríspidos, calando-se imediatamente, como guerreiros que estão diante de seu general (como se fossem para a guerra).
Após uma longa hora de espera, eis que se aproxima Lysolda e sua corte, e tem inicio a festividade formais para o zarpa mento da Nau corajosa que enfrentará o oceano e todos os seus mistérios.

Durante todo o festejo, enquanto a alta burguesia da cidade cumpria suas funções diplomáticas, Lambech manteve-se irrefutavelmente ao lado da sacerdotisa. Não por amor apenas, muito menos por ser essa sua função. O que verdadeiramente incomodava o guerreiro é um sentimento estranho e indefinido, como uma nuvem negra pairando sobre as ondas. Embaixo do elmo dourado, seus olhos avançam pelo mar até onde sua vista alcança. Talvez seu avô tenha razão. Os velhos sempre têm razão, e o velho Almodóvar em particular possui uma notável sabedoria.
Perigos se escondem naquele horizonte que nunca foi violado, e Lambech sente isso no vento. Desde sempre seu povo tem se mantido nesse continente, nem um de nós faz a menor idéia do que poderá haver além dessas ondas. Nossos barcos pesqueiros não foram muitas milhas além do porto de Carakamos.
As lendas falam de criaturas marinhas, criaturas terríveis muito diferentes das que encontram em terra firme. Uma conversa com Sianodel há poucas horas o mostrou que o sábio elfo tratou de fortificar o navio e nos manter devidamente armados. Mas nem mesmo Sianodel pôde dizer o que existe Além-Horizonte. Como podem se preparar para algo que não sabem o que é?
O velho caduco dessa maldita corte quer que Lysolda embarque rumo ao desconhecido julgando-se capazes de protegê-la.
Mas sentindo o sangue esfriar na face, tendo todo o porto em festa à sua frente, Lambech soube que aqueles homens não faziam a menor idéia do que estavam fazendo e eram todos torpes o suficiente para embarcar uma sacerdotisa indefesa rumo à morte. E o pior de tudo, o que mais lhe fere o coração, é saber que deverá (e por tudo o que há de mais sagrado, ele irá) protegê-la de todo mal que o oceano possa guardar para o destino desses mentecaptos. Irá protegê-la não por que é guarda-costas da princesa, mas sim por que a ama mais que tudo nesse mundo.
— O que aflige sua alma, guerreiro? – a voz melodiosa de Sianodel se projeta nas brumas de sua mente, arrancando-o de suas elucubrações. O elfo se aproxima com seu costumas passo lento, arrastando um manto azul bordado com motivos dourados. Sua pele é quase tão branca quanto à espuma que se quebra na praia abaixo deles. Na pontuda orelha esquerda, Sianodel carrega uma argola de prata, onde poucas pessoas conseguem notar a inscrição Adventum matim Calisto, que num esquecido idioma de seu povo das florestas, significa “aquele que trará a luz”.
— Tento não pensar nisso, mas o mar vibra ao meu encontro como uma fera enraivecida. Temo o horizonte, botânico, e não entendo como podem festejar diante desse mistério.
Sianodel baixa a cabeça e pensa um pouco antes de dizer qualquer coisa. Quando finalmente diz, o faz com uma assustadora certeza que abala Lambech:
— Se temes pela sacerdotisa bem mais do que temes por sua vida, és mesmo o melhor guardião que ela poderia ter.
Lambech volta os olhos pro mar. Nuvens negras se aproximam no horizonte, como um alarme. Não poderia confessar ao elfo seu amor secreto, nenhum lorde da corte da Deusa aceitaria um romance entre o guardião e a sacerdotisa. É contra as tradições milenares de seu povo, e são essas leis que vem garantindo a santidade da religião por tantas eras.
Mas como dizer aos religiosos da corte que acha isso tudo muito enfadonho, que são velhos caducos que nada entendem do amor e nada sabem sobre amar? Como dizer a eles que Lysolda o ama, mesmo sendo contra as suas leis cegas e nenhuma lei do mundo pode evitar que um coração bata junto a outro que também o ame?
— Você esconde segredos, guerreiro. Os segredos enfraquecem a alma. Tenha isso em mente quando os conflitos internos começarem a guiar sua espada.
— Não possuo outro motivo senão defender a sacerdotisa, botânico.
— Se é o que diz Lambech... Mas você é jovem e os jovens são impetuosos. Embora você seja valoroso, procure identificar qual a verdadeira motivação de sua espada, ou isso fará com ela falhe quando mais carecer de sua lâmina.
Lambech não responde, mas os 235 anos de Siadonel permitiram que o sábio elfo aprendesse a ler olhares, principalmente dos humanos, que de todas as raças civilizadas são os mais transparentes.
Pelo olhar Lambech, Sianodel soube exatamente que naquele momento o jovem guerreiro estava refletindo sobre o que acabara de dizer a ele.
E se sua intuição estiver correta, o garoto terá problemas.


Já faz algum tempo que a Nau navega rumo ao desconhecido e Lysolda ainda insiste em acenar para os minúsculos pontinhos que se agitam em Carakamos. E a sacerdotisa permaneceu ali acenando até não sobrar do continente mais que alguns contornos indefinidos por entre as ondas do mar.
Passos pesada se aproxima atrás de si, e antes mesmo de reconhecer a voz, Lysolda já sabia que se tratava de Lambech. O guardião fica respeitosamente na distância de um braço, como manda a tradição. Sem se virar, a bela jovem abaixa o lenço que esteve acenando nas últimas horas.
— O sol está se pondo, sacerdotisa. Sianodel a chama para a ceia.
— Me chame apenas de Lysolda, Lambech. Não estamos mais numa cerimônia religiosa e certas formalidades são desnecessárias aqui. Estamos num navio.
— Sim, mas...
Interrompendo-o, a garota se vira e o beija. Um beijo rápido, certeiro. Lambech se cala.
— Sente meu coração bater, Lambech? Acaso estamos vivos, não? Não somos marionetes de um espetáculo artístico. Somos pessoas. Acaso não somos?
— Sim, sacer.. Lysolda.
— Amo você, Lambech. A Deusa não condenaria tal amor, já que é tão puro e cristalino os rios da própria terra. Não ferimos nem blasfemamos contra a religião, apenas amamos. É esse um crime tão condenável?
— A corte... Eles jamais aprovariam tal ousadia e... Temo pela sua vida.
— Temes? Temes pela minha vida? – Os cabelos vermelhos de Lysolda se agitam furiosos no vento. Lambech mantêm o olhar fixo nos olhos dela.
— Temo por sua segurança nessa empreitada. Não saia de meu lado em momento algum, Lysolda. Pelo amor que sentes por mim, não saia de meu lado.
— Confias tanto em sua espada?
Lambech apenas assente com a cabeça. Lysolda sorri divertida, e caminha para a cozinha sabendo que Lambech a acompanhava com o olhar.
Sozinho no convés, ouvindo somente as ondas se chocarem contra o casco e o burburinho de gente lá embaixo, o jovem campeão observa o próprio reflexo na lâmina de sua pesada espada. Poucos guerreiro no continente conseguiriam empunhar uma arma tão destruidora com a maestria com que faz. Desde pequeno fora treinado para empunhar essa lâmina, fora moldado pelos melhores para ser o melhor.
E tornou-se o melhor entre os seus, mas ainda assim o fundo de seu coração esconde o medo de não ser o suficiente.

Parte 2 Amor e Mar Revolto

A extensa mesa de banquete se estendia por todo o luxuoso salão, sendo rodeada por toda a tripulação, na maioria homens fortes e robustos, que se fartavam do laudo jantar e faziam muito barulho com seus instrumentos de corda e canções de pescadores.
Adiante, na ponta extrema da direita, sentava-se a corte real, um grupo seleto de burgueses e religiosos que cercavam a sacerdotisa e cuidavam de todos os detalhes pertinentes à religião.
Afastado a um canto atrás da sacerdotisa, Lambech comia seu prato de carnes ao lado de sua espada sem tirar os olhos da mesa.
Sianodel lançava olhares ao guerreiro desaprovando sua obsessão, mas de certo modo sinceramente admirado com sua dedicação ao cargo que exerce. Ele realmente não sai do lado da sacerdotisa um só minuto, chegando ao exagero de aguardá-la de pé frente ao quarto enquanto ela se banha.
Siadonel ergue a taça de vinho e automaticamente todos na mesa se calam, até mesmo os instrumentos musicais, como se o gesto do elfo inspirasse o mais profundo respeito:
— Um brinde à deusa e às novas terras!
Todos erguem sua taça e gritam em uníssono. Lysolda sorri, todos na mesa se divertem e cantam felizes. A grande cruzada parece haver despertado em todos uma nova esperança. Todos no Continente sofrem com a superpopulação e a escassez de recursos, todos os níveis da sociedade se mostrou interessada em uma nova terra, um novo mundo.
Ninguém objetivou quando Siadonel propôs essa empreitada para além do horizonte. De certa forma, todos queriam um pouco mais de ar pra respirar.
Logo, todos os tripulantes e membros da corte pareciam apreciar a viagem, e dia após dia cresciam ainda mais na certeza de estarem em segurança.
Passadas duas semanas de viagem pelo mar sem que nada de estranho ocorresse (ao contrário, tornaram-se monótonas as tarefas de vigília e defesa do navio).
Então, a contragosto de Lambech, Siadonel permitiu (em vista da aparente ausência de perigo) que os marujos tivessem todos uma noite de folga onde ninguém ficaria na vigília nem nos arpões. Àquela noite foi decretada festa no navio e todos se esbaldaram com muito vinho e carne, matando o último porco e algumas galinhas que estavam sendo cuidadas no porão.
A lua reluzia no céu estrelado, uma lua grande que brilhava na armadura poderosa de Lambech. O guerreiro fincara sua espada no convés do navio e lançava um olhar negro ao horizonte, um olhar de desafio que fez Siadonel mais uma vez se aproximar preocupado:
— Algo o incomoda, guerreiro? – diz o elfo, arrastando um manto azul — Não está frio demais aqui fora?
— Não suporto aqueles porcos lá embaixo, botânico – responde, arrancando a lâmina da madeira e encaixando na bainha — Comportam-se todos como se estivéssemos em segurança, e você ainda os permite festejar?
— Faz mais de duas semanas que estamos a navegar, Lambech, e nada de perigoso nos sucedeu além de algumas tempestades e agitações nas ondas. Não merecem um pouco de lazer após tanta apreensão?
— Não deveriam baixar a guarda, eu sinto que... - Lambech interrompe a frase e se aproxima mais do parapeito do convés, como se firmasse a vista em algo no horizonte. O elfo acompanha o olhar do guerreiro e percebe o que chamou sua atenção.
— O que acha que pode ser Lambech? – pergunta o botânico, forçando a vista até divisar pequenas ondulações no horizonte.
— Não sei botânico, mas seja o que for é grande. Será terra?
O elfo vira-se para o amigo e sorri. Sim, pode ser que seja terra e seus olhos amendoados sorriem mais ainda que seus lábios. Mas com o escuro da noite (mesmo sob o forte prata da lua), não poderiam distinguir isso com certeza. Mas seja lá o que for apontava proeminentemente no horizonte.
— Devemos ficar de prontidão, ordene aos homens que reassumam seus postos.
— Não podemos alarmá-los em vão. Podem ser apenas o mar revolto.
— O ar não aponta tempestade alguma, botânico. Dê a ordem aos homens.
— Seja razoável, atravessamos tempestades nos últimos dias e é natural que adiante estejam ondas maiores que o comum que poderiam perfeitamente despontar no horizonte. – diz Sianodel, caminhando de volta às escadas.
A forma no horizonte desaparece defronte os olhos de Lambech que pisca como se não acreditasse, ele se esforça para voltar o foco da visão e nada vê alem de água.
— Chame os homens Elfo, teremos uma batalha pela manhã.
O elfo se vira para, interrogar Lambech sobre a razão de tanto desconforto, mas olha primeiro o horizonte, e se espanta com o que vê, na verdade com o que não vê.
— Guerreiro o que acha que era aquilo? Pergunta Sianodel tremulo.
— Não sei, mas o que quer que seja já nos viu. Afirma Lambech sem olhar para o velho botânico que corre para as escadas para colocar os homens em formações.
Poucas horas depois o mar começa a se agitar como se uma tempestade se aproximasse os homens estão apreensivos na proa da enorme capitania que ousou desafiar o mar.
Um trovoar ensurdecedor se ouve vindo do fundo do mar, que logo explode ninguém vê ao certo que esta havendo, pois a água volta para o mar como se uma grande trombeta caísse sobre os bravos marinheiros, logo se vê enormes pilastras de carne que revelam como se quisessem abraçar a nau. Os homens correm para repelir outros gritam desesperados com arpões nas mãos que trovejam contra o ataque do monstro. Somente um se mantém sem se abalar no seu posto que determine que jamais deixara a sacerdotisa se ferir ou se abalar, Lambech esta na parte inferior do barco com sua espada a punhos. A parede de madeira do barco explode, revelando um tentáculo que com tamanha violência arremessa Lysolda de contra a outra extremidade da sala solta apenas um gemido alto e oco. Lambech não pensa apenas se arremessa contra o horrendo tentáculo que cintila de um lado párea o outro como a língua de um demônio. Um ataque com sua poderosa arma feito do mais duro nobre aço e o tentáculo se parte logo se segue a um estrondo ensurdecedor, que faz parecer que o céu esta caindo, logo se ouve um grunhido fino e extenso e o monstro se retira. Lambech fica ali parado olhando para o buraco feito na parede tão grande que ele mais dois homens fortes passariam sem problemas, olha o sangue fétido que banha o quarto.
Um barulho na porta devolve a sanidade a Lambech que corre para acudir Lysolda, a porta abre num brusco empurrão revelando Sianodel que esta sujo e cheirando a algo forte, mas não parece ser o sangue da criatura...
— O que ouve aqui? Pergunta o elfo quando vê Lysolda nos braços de Lambech
— Aquela coisa nos atacou e acertou a sacerdotisa. Especa o guerreiro que fala afobada mente com os olhos lacrimejantes.
Sianodel olha a quantidade de sangue no quarto e olha admirado para Lambech, observa Lysolda e deposita suas mãos abeis sobre o pescoço da jovem para confirmar as batidas de seu coração. Ele sorri.
— Não se preocupe jovem amigo, ela é mais forte que você imagina. Ela esta bem apenas inconsciente. Diz Sianodel batendo nas costas da armadura de Lambech — Vá se banhar e retirar esta imundice de teu corpo amigo, você não vai querer preocupar a jovem sacerdotisa com sua batalha.
— Por falar em imundice. Diz Lambech mais calmo-Que cheiro estranho é este que vem de suas roupas?
Sianodel sorri-É algo que chegou pouco antes de zarparmos, veio da biblioteca de Zion, dizia uma carta que acompanhava o barril que ele mesmo confeccionou, dizia que era um pó mágico e extremamente poderoso.
Lambech se retira deixando o elfo com a sua amada, na verdade ele não queria deixar, mas não pode se dar ao luxo de cair agora.

Parte 3 Pecados:

Já se passaram mais de sete dias, desde o ataque da criatura, que segundo Sianodel pode ser um Kraken que diz as lendas antigas, tudo esta mais calmo, quase tudo o coração de Lambech ainda esta inquieto, Lysolda quase foi morta, isto é mais que motivo para Lambech ter ainda mais certeza da inutilidade desta viajem, mas agora é tarde.
Lambech esta na parte de traz do navio, pensando se um dia conseguiram voltar para o continente, mas as sombras escuras do desespero vêm para tomar a mente te Lambech.
Ele olha para as ondas criadas pela passagem do navio, as águas começam a formar imagens, antes turvas agora nítidas, os sons das águas cortadas pela nau se tornam gritos desesperados de dor. Ele não gostaria de se lembrar deste pesadelo, mas este fora insuportavelmente real, real a ponto de dele acorda pingado suor e gritando, logo depois chora e chama por Lysolda chama baixinho para que ninguém ouvisse, não quer que todos saibam de seu medo, nem mesmo Lysolda. Ele não queria se lembrar, mas este sonho de quatro noites atraz o perturbou muito, a ponto de o maior guardião de Higa, ficar inseguro como uma criança indefesa.
Em seus aposentos no palácio real na capital de Higa, o aposento mais peróxido da ala feminina onde fica o quarto real de Lysolda. Ele esta polindo sua orgulhosa lamina que jamais fora derrotada, a não ser pelo botânico Sianodel que é um espadachim perito e com grassa em manejar duas espadas ao mesmo tempo faz Lambech parecer desajeitado e lento com sua descomunal espada, mas ele não se importa, pois o elfo é um companheiro tão amável, que seria desconfortável o fato de Lambech vencer uma justa, ele esta tranqüilo ate aliviado por saber que ela Lysolda esta segura em seu quarto.
A pesada porta de madeira maciça é posta abaixo por uma poderosa pancada e logo sete centuriões do império invadem seu aposento cercando assim o guardião. Ele sabe por que estão ali, e com um movimento rápido com sua espada ele gira e se pões em guarda:
—Não faça disto mais doloroso que já é para nós senhor. Diz um experiente guarda que lidera o grupo.
—Não gostaria de viver para ver o amanhecer meu bom amigo. Diz Lambech com a cabeça baixa.
Com uma inquisição rápida um centurião acerta o guardião nas costas com sua desleal lança, seus olhos lacrimejam amaldiçoando o dia em que conhecera Lysolda, assinando assim a sentença de morte de sua amada, ora, se não a conhecida dês de quando eram crianças nada disto estaria acontecendo.
A garganta seca, os olhos doloridos, o cheiro de sangue em sua túnica, a corrente de ar gélido típica desta época que invade o aposento escuro e frio que ele reconhece como uma parte da masmorra na zona norte da fortaleza, tudo volta a sua mente antes entorpecida, mas agora, assim como o sol raiando, iluminando a grande estaca que esta cercada de lenha seca, no pátio de frente a pequena janela que brota do solo, tudo faz um sentido cruel. E o mar volta a ser azul.
Seu devaneio desesperador é interrompido por um deslizar de mãos em suas costas que esta livre da pesada placa de metal de sua armadura. Ele não se vira, não fala sabe que é Lysolda ele sabe que ela sente sua falta, já que nos últimos dias ele tem se preocupado muito com o futuro dos dois e esquecido dela. Ele se vira para pedir perdão e antes que ele o diga, ela o interrompe com o dedo bloqueando seus lábios, ela sorrir e diz com um tom meloso e debochado.
— Foi certo, você Lambech é realmente o maior guardião de todos os tempos. Diz ela enquanto se aproxima dos lábios dele, ate beija-lo com todo amor que seu coração pode demonstrar com um beijo, ainda assim é uma pequena fração.
— Creio que ando negligente minha amada Lysolda, seria possível minha sacerdotisa perdoar este humilde servo? Diz Lambech com um sorriso amarelo, mas mesmo este sorriso sem jeito esquenta o coração da jovem clérigo, pois ela esquecera como é lindo o sorriso de seu amado, e ele jamais a perturbaria com seu pesadelo.
— Não. Diz Lysolda seria — Não sua sacerdotisa não pode perdoar, mas a mulher que lhe ama, mais que a ela mesma, sim, esta sempre te perdoará. Ela o beija novamente mais amorosamente.
A noite chega com o calor do amor dos dois clandestinos neste mundo alegre e terno dos amantes. Como estão todos ocupados com a manutenção e com a guarda da Nau, é permitido a Lambech e a Lysolda experimentarem nem que por um pouco período de tempo o que é ser feliz do lado de seu amor.
Os dois amantes têm a chance de passar a noite fria do mar, como amantes aquecidos com seus corpos quentes de paixão aflorada, os dois sem preocupações com o mundo que passa a não existir mais, só existe o amor dos dois... Esta noite foi deles
Lysolda solta um soluço e se segura para não fazer barulho enquanto derrama suas lágrimas de desespero diante a impossibilidade deste amor, ela não quer acordar seu amante e cúmplice neste pecado imperdoável.
Lambech desperta como se nascesse novamente para uma outra vida, uma vida em que a única pessoa que importa é sua amada Lysolda, a bela que dorme em seus braços... “Esta é sem duvida a imagem mais bela de todas que existe neste mundo.” Pensa ele, enquanto observa o sono restaurar a vida de Lysolda, que acaba de despertar, e sorri ao perceber que não se tratava de um sonho bom que tivera, e que era real, estivera sim com Lambech à noite e foram felizes...
Lysolda quebra os devaneios do silencio, ao observar que ainda não amanheceu.
— Caro amigo, já não deveria ter raiado o sol? Será que dormimos tão pouco, pois me sinto bem e descansada... Será que fora a magia de nosso amor que me restaura? - Diz Lysolda, antes de beijá-lo.
— Que você minha amada está restaurada pela minha vida que agora corre dentro de si, sem duvidas. Mas também é verdade que já deveria ter raiado o dia. Escute os homens já estão no convés... Vamos ver o que acontece. Se fosse algum tipo de perigo, já teríamos sidos chamados. - Lambech sorri radiante.
O marinheiro que cuida do mastro principal percebe que o sol não saíra para saudar as gotas da na manhã, intriga-se, mas no meio de sua confusão percebe no horizonte negro uma sutil porção de terra, e seu coração se aperta. Um misto de felicidade e apreensão, por que não são terras normais, está tudo muito escuro, escuro demais. Ele desce do mastro e corre atravessando o convés onde os homens estranham o não raiar do sol, corre pelos corredores ate a cabine do capitão da nau. Ao chegar percebe que o velho homem de barbas extensas e desgrenhadas não está sozinho, o elfo Sianodel já esta a conversar com o velho marujo.
— Senhor - Diz o jovem recuperando fôlego — Terra, senhor! Vejo terras negras como a noite! A estibordo. Atravessamos para outro mundo, um mundo negro, onde até o sol se esconde... - O marinheiro se cala ao perceber que falara demais sua angústia.
— Ora, chega de crendices tolas, marujo - Diz Sianodel irritado— Irá despertar o medo nos outros e nem a Deusa acalmará seus corações.
— Desculpe senhor, mas veja o senhor mesmo à terra das trevas que já deve estar visível do convés.
Sianodel se retira para ver o que assustara o marinheiro desta forma. Ao chegar à proa percebe que Lambech e Lysolda já estão na parte da frente do barco.
A ilha despontava numa curva bastante acentuada acima do horizonte, o que deu aos corações temerosos do convés a idéia de suas proporções. Lambech agita-se, como todo bom guerreiro, mal se contendo nas tábuas que sustentam seus pés. Num gesto instintivo, desembainha sua espada, que estranhamente não encontra nem uma luz pra refletir além das velas e lamparinas do convés. Um mar negro engole o ar ao redor da embarcação, a ponto de ninguém saber onde termina o chão que pisam.
Sianodel se aproxima com uma lanterna de óleo, dando ao seu rosto um aspecto ligeiramente mais magro que o normal, ressaltando a estrutura óssea característica dos elfos.
— Esse breu me soa como mágica guerreiro. Podes sentir?
Lambech não responde. Algo em seu interior o faz apertar o punho ao redor da espada. Lysolda se aproxima de seu guardião, como se pressentisse o que viria.
O vulto atravessa o convés acima de todos, como um falcão em vôo rasante.
— Seja o que for já sabe que estamos aqui – Diz Lambech, tentando inutilmente penetrar seus olhares na escuridão.
Sianodel percebe que nem sua apurada visão élfica consegue penetrar no escuro que envolve o navio. Seja o que for, está sobrevoando suas cabeças, e o mais espantoso é não ouvir nenhum farfalhar de asas. Mas prefere não mencionar isso ao guerreiro. Lambech já está apreensivo o suficiente. Num ímpeto, o botânico pega a sacerdotisa pelo braço e a arrasta para a cabine.
Lambech e todos os guerreiros ficam em prontidão no convés do navio, aguardando qualquer movimento, qualquer som que pudesse lhes indicar um alvo para suas espadas.
Mas nada veio, nenhum movimento de asas. Até o vento pareceu emudecer a espera de um ruído, mas em vão.

Parte 4 Camilla

No continente de Higa, em uma pequena vila, morava uma linda jovem, de cabelos negros como as sombras, de pele clara como seda nobre, uma flor raríssima. Morava com seu irmão, mais velho que ela três anos, igualmente belo, de porte forte e com uma coragem audaciosa e às vezes imprudente, mas muito justo e bondoso. Dedicado ao ponto de ela ser tua única razão para respirar, já que eram órfãos. Camilla com seus quinze anos aflorados, ele, Estefan, com dezoito.
Ainda jovem, o chamado da Deusa tocou seu coração, lhe convocando para fazer parte das que se dedicam a ela. Camilla prontamente atendeu teu chamado.
Estudou na catequese da capital onde conheceu a jovem Lysolda, o poderoso Lambech. Tornou-se uma de suas sacerdotisas quase ao mesmo tempo em que seu irmão se forma como cavaleiro guardião. Obviamente, ele não aceitaria defender a própria sumo-sacerdotisa Lysolda e deixar sua amada irmã em mãos desconhecidas, e isso fez com que ele se tornasse o guardião de Camilla, sacerdotisa do templo no sul.
Camilla se esforça ao estremo para manter em ordem seu templo onde é amada pela população toda, e por sua vez, ama todos os habilitantes da pequena vila onde se encontra o templo sul. Estefan ajudava nos afazeres da comunidade, como um bom guardião que se prestara a ser.
O destino cruel voltou sua face para a pacata vila, em um dia normal nas minas de ferro (principal atividade econômica da região). Houve numa das principais minas um terrível um desmoronamento, e a grande maioria dos funcionários morreram. Como trabalhavam nessas minas várias mulheres com seus maridos, isso fez com que varias crianças se tornassem órfãs.
Camilla dedicou-se num esforço quase que desumano para consolar as crianças. Passava o dia todo com elas para distrai-las, cantando e brincando, como se fossem todas crias de seu ventre.
Estefan não é diferente, adora ver a irmã neste estado de compaixão. E o tempo passou cuidando das feridas. Dois anos depois todas as crianças já estavam bem estabelecidas com famílias, os acidentes do passado haviam se tornado apenas uma lembrança ruim na cabeça daqueles jovens.

Parte 5 Deuses Alados

O destino mais uma vez estende seus cruéis tentáculos para a vila. A lua nasceu vermelha aquela noite, e sabia bem Camila que tal agouro não seria bom sinal. Como um arauto que antecede o terror.
Das montanhas do leste ouve-se o bater de asas que trazem a dor e desespero consigo, no interior de seu templo Estefan sentiu a presença daquele deus. Um deus que vem para sua vingança.
A vila estava até então calma, as pessoas já se retiraram para suas casas, Camilla está com seu irmão no templo. Estão degustando uma bela refeição feita por ela. Se não fosse uma sacerdotisa seria uma ótima esposa.
Estefan a olha e sorri:
— Estou muito orgulhoso de você minha querida irmã... Você se supera a cada dia, sua dedicação é emocionante.
Ela enrubesce.
— Caro irmão, eu só faço isto por que você esta aqui comigo - diz Camilla sem jeito, e passam o resto da ceia em silêncio. Não por faltarem assuntos, mas sim por que um conhece demais o outro para falar algo, suas melhores conversas não têm palavras.
Mas um estrondo ensurdecedor interrompe os dois, e ao olhar pela janela rústica do templo, vêem que a granaria está em chamas e vários aldeões tentam apagar o fogo. O desespero em poucos instantes se espalha como as chamas, que se percebe, não eram chamas comuns, pois não se apagam. É um fogo que parece liquido quente como o inferno.
Suas labaredas consomem a sanidade dos aldeões tal como as casas. Uma sombra maligna sobrevoa ofuscada pela luz vermelha do fogo, dando voltas para saborear a loucura contagiosa.
Berem é filho do líder dos aldeões, e foi o único a perceber o planar do monstro. Ao notar o estrondoso vôo da criatura, ele corre para pegar sua espada, uma espada curta e bem afiada que estava junta a seu escudo.
Imediatamente monta em seu cavalo sem nem ao menos preparar a cela e o pica com a espora rapidamente calçada, galopando sem saber ao certo qual o inimigo. Sabe apenas que alguém pagaria muito caro pela destruição causada. Ao ganhar a rua, Berem encontra com Estefan, ocupado em ajudar os aldeões a apagar o fogo.
— Estefan — Grita Berem—Olhe para o céu, O culpado esta lá!
Estefan olha com atenção e avista um vulto negro em meio a fumaça, que se preparava para o pouso à apenas alguns metros de onde estavam.
Emitindo um grunhido medonho de suas gargantas já bastante aquecidas, o poderoso dragão Grivar pousa majestosamente, levantando do chão que toca uma nuvem escura de poeira e cinzas. Como quem sabe exatamente o que viera fazer aqui, começa a caminhar de uma forma despreocupada, como se caçoasse dos humanos por sua fraqueza. Os aldeões se agitavam como formiguinhas estúpidas tentando apagar suas chamas, ao mesmo tempo em que se afastavam temerosas.
De fato não é corriqueiro uma criatura alada de tal porte se aproximar tanto de agrupamentos humanos. Os dragões geralmente se ocupam apenas com seus próprios combates egoístas. Se havia em plena feira de Lamordia um desses gigantes, com certeza deve haver uma excelente razão para isso. Mas essa razão passa completamente despercebida ao coração furioso de Berem.
Estefan saca sua espada e impetuosamente parte em direção à criatura, sendo seguido por Berem em sua montaria.
_Não se aproxime muito dele, irmão! – Grita Berem, galopando seu corcel ao redor do dragão.
Num último instante antes de enterrar a lâmina nas escamas do monstro, Berem pôde jurar ver um vulto de sorriso nos lábios da fera. Mas tal coisa não pôde ser comprovada, pois o suposto sorriso logo foi interrompido por um urro assustador.
A cauda de Grivar rodopia cortando o ar, atingindo o cavalo de Berem num golpe certeiro.
Rolando nos cascalhos, Berem acerta sua cabeça numa pedra e fica imóvel. Vendo seu irmão desacordado e temendo pelo pior, Estefan avança cegamente em direção ao Dragão, arrancando de sua fúria um grito que pôde ser ouvido mesmo em meio à cacofonia que dominava toda a cidade. A Lâmina de sua espada cintila nas chamas e nesse instante, o olhar de Estefan atinge os olhos do dragão como o trovão de um deus enfurecido. Um liquido negro escorre pela face do monstro que urra e sacode rapidamente sua cabeça, e fica imóvel, olhando furioso para o guerreiro que prepara outro ataque.
Antes que Estefan pudesse novamente erguer sua espada, a voz rouca do Dragão interrompe seus movimentos:
— Cavaleiro, assinaste tua sentença, prepara-te! - A voz de Grivar estoura nos ouvidos de Estefan, como se fosse o desmoronar de uma montanha.
Ao dizer isto um repentino bote das garras do dragão atinge certeiramente o peito de estefan, rasgando sua frágil proteção como folhas de uma arvore agonizante.
Tomada por uma urgência que não sabe determinar a origem, Camilla corre na direção da batalha que se desenrola. Ela chega ao exato momento em que Estefan é atingindo pelo Dragão e a cena violenta lhe arranca um grito de dor, sentindo o mundo se desmanchar ao seu redor lhe roubando o ar e a terra, que num mal estar agonizante, lhe foge aos pés.
Resta apenas ela e o corpo de seu irmão que ela ama mais que tudo, sangrando em carne viva.
Em seus ouvidos ela ouve a voz repugnante do algoz de seu irmão:
—Filha da terra, saiba que o mundo não pertence a vocês humanos. Nós somos Deuses, já reinamos antes e podemos fazê-lo novamente. Seu destino está sendo vigiado, não irás para junto dele, não, viverás para ver o inicio de uma nova era. - Ao dizer isso, as asas do dragão se abrem e se fecham tão forte que levanta o corpo enorme da criatura, deixando a jovem abraçada em prantos ao corpo sem vida de Estefan.

Parte 6 O senhor do destino

O dragão Grivar corta os céus em direção a seu covil, tendo em mente que os desejos de seu pai foram cumpridos, sentirá um orgulho de seu filho leal.
Contornando uma formação rochosa, pousa nas montanhas e põe-se a caminhar devido a seu cansaço. Amaldiçoa-se por ter se deixado ferir por aquele inseto estúpido, o que lhe rendeu um olho cego. Certamente seu pai o repreenderá por esse deslize.
—Humanos tem uma alma forte, eles não desistiram. Se eu tivesse pouco menos idade teria sido derrotado. Ate poderia gostar do espírito humano. — Neste momento ele é interrompido por uma voz poderosa.
—Não é hora para duvidar da causa, Grivar... - diz uma sombra que é logo ofuscada pelo sol nascente, uma sombra colossal de um ser cuja silhueta de suas asas cobre todo o corpo de Grivar. O dragão se encolhe.
—Meu senhor, meu Deus, meu pai, Karveck. Que honra é vê-lo depois de tanto tempo - Diz Grivar se agachando num sinal de reverência.
—Meu filho Grivar... Fizeste bem minha vontade. Agora aquela humana será a nova líder deles, Camilla ira reinar com ódio no coração. Esta é minha vontade, e minha vontade é a lei. Eldora, sua mãe, terá que retirar a proteção que estende sobre a raça humana. Para tanto terei que fazer sacrifícios, para que a guerra possa começar e culminar em uma iminente eliminação da raça humana. Terei que sacrificar a todos meus filhos.
Grivar treme, escondendo entre rochas seu olhos sangrando:
—Meu senhor, mas se teus filhos forem destruídos, como irá combater as armas humanas?
—Minha espada esta nas mãos de rei morto, meu filho. Todos vocês renascerão numa nova era, quando ao lado de tua mãe eu reinarei, pela eternidade.
Ao dizer isto, um poderoso sopro de um fogo negro consome toda a massa corporal do dragão, eliminando qualquer vestígio do que viera a ser o majestoso corpo de Grivar.
_E em meu reino não haverá espaço para os fracos, amado filho. Acaso achaste que não notei seu sangue gotejar as rochas? Nenhum dragão que seja maculado por macacos merece o fogo que expele.
E tão majestosamente quanto surgiu, Karveck alça vôo, e suas asas por um instante bloquearam a luz do sol, até sumir no céu azul, deixando no alto da montanha apenas as cinzas do que havia sido um de seus filhos.

Parte 7 Areias Negras

O navio atraca no estranho solo da ilha, chocando-se com uma anormal areia negra, negra como tudo o mais nesse outro mundo desconhecido. Os tripulantes da Nau só distinguiam a terra pelo choque do casco e o eco surdo característico das porções de areia. O chão estava invisível, daí a supor tratar-se de areia negra: Mesmo nas mais enegrecidas luas o branco das praias sempre se faz enxergar. Mas nem mesmo os olhos de Sianodel conseguiram esquadrinhar a praia. Se for de fato areia que cobre o chão, e o elfo é levado a crer nisso pelo barulho do casco, então se trata de uma areia negra, e tal coisa só poderia ser fruto de magia, assim como boa parte de tudo o que vem se sucedendo aos homens dessa embarcação.
_Seus olhos vêem algo, botânico?- a voz de Lambech se projeta na escuridão. As lanternas a óleo do navio não conseguiam iluminar a praia.
_Não mais que você, guerreiro. Mas sinto cheiro de magia.
_Era o que temia elfo. Aquela criatura alada provavelmente veio daqui.
_Ordene aos homens que desembarquem na ilha. Mas peça que sejam atentos. Não sabemos o que encontrar até que o sol nasça.
Lambech desembainha sua espada e faz um sinal para os tripulantes que estavam no convés. Reunindo os guerreiros mais experientes, o Guardião aproxima-se mais uma vez do elfo, que fitava contemplativo o escuro palpável diante de si.
_Os homens irão, sem sombra de dúvida com toda a cautela. Mas não espere o sol nascer nesse lugar, elfo. Isso não irá acontecer.
_Como pode ter tanta certeza, Lambech.
_Basta olhar a lua e a escuridão. Não me parecem naturais. E seja qual for à magia aqui empregada, não cederá fácil.
Sianodel se curva no parapeito do navio. Algo monstruoso parecia erguer-se diante ao navio, mas a escuridão não permitia a visão de nada a não ser um vulto colossal. Algo parecido com uma montanha, ou uma construção gigantesca.
_Guardião!- grita um dos tripulantes do navio, brandindo uma cimitarra afiada e uma lanterna trêmula na mão direita.
Lambech se volta para o homem esbaforido, que parou ofegante frente ao volumoso guerreiro. Trazia em sua face à imagem do terror.
_Criaturas Aladas, senhor! Nunca vi nada assim em Higa nem nos mares em que estive! Criaturas como demônios do Abismo circulando o navio!
Como se uma trombeta soasse para coroar as palavras do soldado, um outro tripulante expele um grito de pavor que chamou a atenção de todos, ouvindo em seguida o farfalhar terrível de asas de morcego e o som de um corpo chocar-se naágua. Todos ficaram apreensivos e em prontidão, aguardando um segundo movimento ou uma palavra de ordem de Lambech.
O convés do navio mergulha no silêncio, nenhum homem ousou ao menos respirar.
Súbito, com mais um grito de terror, outro homem é arrancado do navio e arremessado ao mar, diante de todos que impotentes ouviram os gritos sem saber para onde olhar.
_Saiam todos do convés! - esbraveja Lambech, partindo para o centro do navio e tomando uma lanterna das mãos de um dos soldados. _Malkov, escolte Lysolda até os aposentos reais! RÁPIDO!
Assim que o Guardião ergue sua espada uma lufada de ar o joga de novo ao piso do convés, destruindo sua lanterna.
_Desgraçado, APAREÇA!
O vulto corta a escuridão logo acima de sua cabeça, a agitação no convés se torna mais intensa, e um a um os homens eram arrancados do piso e jogados no mar aos berros.
Durante um desses vôos de um dos soldados, a lanterna que ele segurava rodopiou a alguns metros do chão e Lambech vislumbrou aterrorizado a face de uma das criaturas. Um enorme morcego peludo, com muitos dentes e muitos olhos, como um maldito demônio do Inferno. O som que sua garganta fazia era agudo e incisivo, como se mil harpias berrassem em seus ouvidos.
Arrastando-se para não ser pego pelas garras e jogado ao mar, Lambech tenta chegar até as escadas que levam aos aposentos reais.



O soldado Malkov sempre foi um servo fiel e dedicado. Quando a corte reuniu seus melhores soldados para tripular esse navio, ele foi o único a se voluntáriar. Estava ali por amor e lealdade ao reino e para isso iria até os confins da terra. Até então não havia tido a oportunidade de mostrar ao Campeão seu valor como soldado, mas tinha fé que esse momento logo chegaria. A Deusa logo recompensaria seu valor e dedicação.
Por isso ele mal acreditou quando em meio à confusão do convés, Lambech gritou seu nome e o mandou cuidar da sacerdotisa.
Ora, todos em Hyga sabem o quanto Lambech é obcecado com sua missão de guardar a sacerdotisa Lysolda. Muitos até suspeitam da relação dos dois, tamanha sua dedicação. Dizem as más línguas que ele não permite que nenhum outro homem se aproxime dela às sós.
E agora ele, Malkov, que acreditava que Lambech nem sequer lhe conhecia o nome, estava incumbido de proteger Lysolda enquanto o seu guardião lutava no convés.
A excitação é imensa quando ambos entram nos aposentos da sacerdotisa e trancam a pesada porta de carvalho por dentro. Aquele aposento era o mais seguro de todo o navio e foi uma sábia decisão de Lambech mandá-los para cá.
_Sacerdotisa, está tudo bem?
_Sim, Malkov, obrigada – diz Lysolda, sentando-se na cama e lançando um olhar preocupado para a escuridão que se via pela janela.
Ela também o chamou pelo nome, isso é fantástico. Malkov sorri e enche o peito de ar, jurando pra si mesmo que até Lambech chegar ninguém encostará um só dedo em Lysolda.


A criatura alada mais uma vez joga Lambech contra a sólida parede de carvalho que faz divisa à cabine da nau. Restavam poucos homens lutando no convés, a grande parte já havia sido arremessada no mar e não deram mais sinal de vida.
Lambech, com a espada diante de si, rasgava ainda no ar tudo o que se aproximava. Talvez seus golpes cegos tenham acertado uma ou duas dessas criaturas, mas pareciam haver muito mais no convés do navio.
Derrepente uma enorme bola de fogo se materializa em pleno convés do navio numa explosão quase cegante de chamas e luz, que num só golpe incinerou algumas dúzias desses demônio morcegos, reduzindo tudo a cinzas fosforescentes no ar.
_Eu só tenho mais dois disparos, Lambech! Tire Lysolda do navio! - gritou Sianodel no lado oposto do convés, enquanto uma nova esfera infernal se formava na ponta de seu cajado de madeira.
Atravessando um demônio com sua espada, Lambech joga o pesado corpo da criatura para o lado, que cai no piso como um saco de grãos.
_VAI! - grita Sianodel, fazendo explodir mais uma bola de fogo no convés, reduzindo a cinzas uma outra boa parte das criaturas, que ainda assim pareciam não diminuir sua quantidade.


O barulho começou primeiro longe, depois foi se aproximando, até os vultos começarem a cortar a escuridão da janela com seus gritos pavorosos. Ao aperceber-se do perigo que a sacerdotisa corria se uma das criaturas entrasse ali pela janela, Malkov imediatamente vira uma pesada mesa de madeira e a coloca bloqueando a passagem da janela, no exato momento em que uma das criaturas se choca contra a abertura. Como se um leão se jogasse contra a mesa, Malkov precisou de muita força para manter a mesa no lugar e impedir a passagem do demônio alado.
_Eles não podem entrar, Malkov!
_Eles não entrarão, sacerdotisa, eu prometo! - diz o soldado, segurando com o próprio peso a pesada mesa na janela.
Nesse momento ouve-se uma estrondosa explosão acima de suas cabeças, fazendo tremer todo o navio pela terceira vez desde que chegaram nesse quarto.
_Isso parece efeito de magia, Malkov! - observa Lysolda, inquieta e assustada.
_Vamos torcer para que seja o elfo, sacerdotisa.



Quando a terceira esfera de fogo explodiu, lambech estava no meio das escadas do convés e o tremor do navio todo o jogou contra as paredes, terminando por rolar escada abaixo até a pesada porta de carvalho do aposento real. Sacudindo a cabeça, o guerreiro se concentra na porta. Não é hora de amolecer numa queda idiota. Posicionando seus pulsos na bem trabalhada porta, começa a bater gritando por Lysolda, apesar da cacofonia ensurdecedora que envolvia todo o navio.
Nesse momento uma quarta explosão ecoa pelo convés às suas costas, jogando-o novamente ao chão. Essa foi maior e mais terrível, balançando toda a madeira a ponto do navio ranger ante ao impacto.
Num arrepio que lhe ascendeu ao dorso, Lambech lembrou-se das palavras de Sianodel antes de descer. Só haviam mais DOIS disparos.
Pela Deusa, quem haveria causado essa quarta explosão?
_Até mesmo os deuses antigos sabem respeitar o conhecimento, jovem guerreiro - a voz pareceu sair da terra, e cresceu como uma sombra por trás de Lambech. Era como se a voz viesse em sua mente e não em seus ouvidos. O guerreiro vira-se tentando erguer sua espada, mas o terror o toma por completo ao ter diante de si a assustadora figura que descia as escadas em sua direção, arrastando uma enorme e negra armadura como se não pesasse nada, tendo nas mãos uma espada de lâmina desproporcional à força humana. Se tal a arma é mesmo forjada em metal, Lambech estava certo que o rosto dentro daquele elmo negro não podia de forma alguma ser humano.
_Engenhoso o método utilizado pelo elfo para espalhar com mais efeito as chamas de sua magia. Que nome deram àquele fantástico pó que espalhou no vento antes de invocar suas chamas?
_Quem é você? - pergunta Lambech, tentando não vacilar a voz espremido contra a parede.
_Tenho muitos nomes. Necromante. O Maldito. Lich... Mas você não ouviu nenhum deles porque o conhecimento não é algo valorizado em seu mundo.
_Do que está falando, maldito? Onde está o botânico?
_Fala do elfo? Apesar de haver achado realmente genial aquele pó explosivo, não resisti a alimentar meus morcegos com seu sangue nobre. Ah sim, é claro que ele fede a sangue nobre. E você também, garoto - ao dizer isso, o cavaleiro negro se prostra bem frente à Lambech, evidenciando o fato do macabro cavaleiro ser quase um metro e meio maior que o guerreiro guardião.
_Aí dentro está aquela que virá comigo. A sacerdotisa.
_JAMAIS! - grita Lambech, golpeando em cheio o peito do cavaleiro com sua espada, iluminando todo o vão de escadas com suas faíscas de metal, mas não arrancando da armadura negra uma lasca sequer.
_Levarei a sacerdotisa comigo para que o povo de Hyga saiba que o conhecimento não deve ser enclausurado numa biblioteca empoeirada enquanto o mundo fervilha de sabedoria e poder. Guarde essas palavras, Guardião. Conhece-se bem sua raça, sei que virá atrás da sua amada.
_Ora, seu...
_Sei que a ama, garoto. Está em seu olhar, no seu medo, na sua respiração. E sei também que virá atrás dela por que és um tolo. Ou porque como eu, queira o SABER. Quando vier, eu, Átila, estarei esperando.
E dizendo isso, o cavaleiro negro ergue a sua pesada espada de metal negro como sua armadura.