domingo, 2 de novembro de 2008

Parte 10 Odisséia dos Mortos

Lambech e o fiel Malkov caminham cautelosos, com o coração ainda em lágrimas pelo destino cruel de Lisa a amaldiçoada. As muitas galerias de pedras tosca mente entalhadas, estão levemente iluminadas por castiçais antigos de um ouro quase tão negro quanto às próprias pedras, são infinitas escadas e grandes salões, uma arte macabra ornamenta as altíssimas paredes assim como grandes estátuas que contam a história deste mundo agora decadente.
_Espere Lambech. - Malkov alerta o campeão para uma pequena bifurcação à esquerda.
Os dois adentram com as armas em punhos e se vêem em um lugar que parece um grande salão de comunhão de um rei antigo. O trono descomunal que se encontra de costas para de onde os heróis entraram, e a voz de Atila repentinamente enche toda sala do trono:
_Bem vindos ao meu reino. Espero que tenham deixado vossas esperanças lá fora.
Lambech se prepara para atacar a figura de costas para eles no trono negro, mas a voz cavernosa o interrompe novamente.
_Guarde sua espada, paladino. Só eu sei onde se encontra sua amada, e sabes empírica mente que sua espada não surtirá efeito em meu corpo. Antes de aflorar seus ímpetos de guerra, vamos apenas conversar.
_Maldito! Diga onde está Lysolda antes que minha espada lhe faça não ter com o que falar!
Átila sorri. Lambech não pôde ver, pois o lich está de costas para ambos. Mas no escuro soube sentir aquele sorriso de deboche. Ainda com a espada em punho, Lambech dá a volta ao trono, visualizando toda a extensão da figura que avistou no Navio. O enorme cavaleiro negro como a noite, apoiando os braços majestosamente em sua espada. Espada maior que a montante de Lambech.
_Queres saber onde escondi sua sacerdotisa, garoto?
_Diga, Átila. Apenas diga. Sairei de seu reino ainda essa noite.
_Essa noite pode não acabar, pequeno cavaleiro.
_Quem é você e porque de tudo isso?
_Meu nome, como sabes bem, é Átila. Seu povo não me conhece pelo nome, mas já devem ter ouvido algo sobre mim, pois criei a fortaleza que chamam de Biblioteca, o sonho de Zion.
_A Biblioteca é uma criação de Zion para nos proteger de inescrupulosos como você – diz Malkov, se pronunciando pela primeira vez desde que pisaram na câmara mal iluminada.
_Ora, cale-se, soldado. As botas que lambe são as mesmas que lhe pisa, não percebe? Zion lhes esconde o poder, pois o teme. A religião é apenas um pretexto para a hegemonia de seus sacerdotes. Hyga precisa saber que o conhecimento encerrado naquela fortaleza libertaria a todos da ignorância que os prende.
Lambech aproxima-se ainda mais com a espada em punho, cintilando aos reflexos das tochas, tamanha sua ira. Aquele desgraçado sentado no trono a sua frente como um deus negro está mentindo. Só pode ser uma mentira para iludi-los.
_Se não acreditas, Lambech, pergunte ao elfo. Ele esteve na Biblioteca.
_Não ouse maldizer o nome de Sianodel, demônio.
_Há séculos ele esteve lá. Foi ele mesmo que prontamente obedeceu as ordens de fechar a fortaleza para todo o sempre. Um maldito discípulo, um lambe-botas como o ingênuo soldado que treme ao seu lado – diz Átila, virando-se para Malkov _Saiba soldado, que o homem que defende hoje matará sua família, e seu filho suplicará pelo que restará de sua vida, e nem o exército de seu maldito reino o impedirá.
_O que fala maldito? - Grita malkov, brandindo no ar sua lâmina.
Lambech não resiste ao ímpeto de guerreiro e desfere um golpe com sua grandiosa arma em direção ao elmo negro de Atila.
A espada choca-se com tamanha força que Lambech custa a manter a espada em suas mãos, e seus olhos não acreditam que Atila mal moveu a cabeça.
_Queres me matar, guerreiro? Desculpe, mas eu já estou morto. - Diz o Lich removendo o pesado elmo de sua cabeça, revelando um crânio humano a muito descarnado pelo tempo, dando a aterradora impressão de que estão de frente a um guerreiro morto, mas o corpo se movimenta, apenas uma pequena luz vermelha se matem nas orbitais de olhos inexistente, o crânio se mantém em uma posição que deixa parecer estar rindo, debochando das feições aterrorizadas dos guerreiros que, se permanecem em silêncio tamanho choque proporcionado por esta imagem aterrorizante. Atila caminha e neste instante os músculos começam a se reformar ate completar toda fisionomia de um rosto humano, depois a pele reveste dando forma original do Lich Atila. Um homem de feições fortes ainda mais majestoso que quando esteve com seu elmo, calvo com uma grande barba que se desponta em uma grande trança que segue ate o fim do pescoço grosso e forte característico dos grandes homens do sul do reino de Hyga.
—Escute cavaleiro, escute e entenda se faço isto, não é mais que meu dever, minha natureza, agora ouça o que lhe digo: Há muito tempo, conheci o primeiro mago, Zion e sua verdade escondida em tomos ainda mais antigos que esta civilização decadente dos humanos. Teu avô estava certo, vocês macacos pensantes deveriam ter continuados cegos, surdos e mudos para a verdade. Porem, não, garoto vocês são sedentos por novos horizontes de tal forma que Zion teve que enviar junto a esta loucura, um de seus malditos pupilos. Mas eu também era assim e incomodava imensamente ao velho e pretensioso mago, eu fui seu melhor aluno, mas jamais aceitaria a inércia que ele defendia, de que adiantaria ter o poder de Deus se não poderia usá-lo? Era tolice.
—O que planeja Necromante?
—Vou matá-los, aos dois e tenho motivos para isto. - ao dizer isto o poderoso Lich investe com uma força assustadora sobre Malkov, que mal teve tempo para se assustar, a espada atravessa-o no abdômen, a força foi tamanha que ignorou completamente a pesada placa de metal que o protegia, Malkov solta um gemido surdo seguido de um jato de sangue inclinando para frente por causa do monstruoso golpe, pouco depois o sangue do fiel soldado banha completamente a espada de Atila, num ultimo esforço, ele olha pra Lambech, não diz, mas seus olhos expressam um orgulho enorme como se dissecem: “Foi uma honra, morrer lhe seguindo”, logo após seus olhos se fecham para sempre.
Lambech perde o controle, e ataca com toda sua força o maldito Lich, inútil, Átila Facilmente do golpe, gira o enorme corpo e atira Lambech que explode na parede que se quebra e ele é arremessado para fora da fortaleza, cai quase sem forças, e uma insistente chuva cai sobre ele fazendo parecer que a própria Deusa chora o destino deste teu rebelde Paladino.
Ele olha para o inimigo com tanta tristeza e magoa por não ter podido salvar nem a sua amada e não ter ajudado Malkov, que já não consegue mais odiar o Lich. Enterra a ponta de sua espada e começa a se levantar demora realmente muito tempo para fazer este esforço outrora tão banal, seu corpo reclama como se já estivesse completamente destruído.
—Por que Atila? Eu ate consigo entender suas motivações. Por que faz isto?
—Eu sou o desterrador, o esquecido que apaga a ultima vela. Sua rebeldia me chamou a atenção Lambech, ainda mais que sua força. Por isto lhe escolhi.
Lambech estremes se com esta ultima frase, ”Por isto lhe escolhi”, soa pertubadoramente clara aos ouvidos do jovem paladino. Não por Lysolda, não por Sianodel, Atila atacou o navio atraz dele, seu coração chora e ele grita de dor, Atila sorri.
—Olhe para traz guerreiro veja, sua amada viva uma ultima vez.
Lysolda esta amarrada em uma grande estaca, nua, com pulsos cortados e os sangue que deles descem se mistura com a água da insistente chuva que cai, banha a sacerdotisa que esta desfalecida pela perda de seu liquido da vida, a imagem é tão terrível que o firmamento cai sobre os ombros de Lambech que novamente cai de joelhos.
—Diga o que quer de mim, faça o que quiser, mas deixe-a, eu lhe suplico.
—Bom garoto, tenho um trato para lhe fazer, para ela é tarde, ela morrerá, mas eu posso libertar sua alma. Em troca você será meu escravo, pela eternidade. Que acha?
Lambech olha para Lysolda que da um ultimo suspiro e se entrega aos braços reconfortantes da gentil morte.
—Certo Lich eu serei teu servo mais devotado, mas deixe-a. - Lambech abaixa a cabeça e chora pelo cruel destino de seu amor, e mais uma vez Atila o Lich sorrir.

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