domingo, 2 de novembro de 2008

Parte 8 O Necromante

Os olhos do elfo se abrem devagar, doloridos. Com alguma dificuldade se acostumam às chamas que dançam luminosas a seu redor.
Onde está?
Embaixo de seu corpo... Areia? As mãos passam pelo solo, sentindo-o. Areia sim, mas... Ao erguer até o alcance de sua visão notou o aspecto dos grãos que escorriam por seus dedos. Areia negra. Todo o lugar onde estava permanecia envolto em trevas como o interior do navio.
O navio.
Assustado, Sianodel tenta se erguer e recordar o que aconteceu. Lembrou-se das criaturas aladas, de ter soprado pólvora no ar para disseminar as chamas mágicas de seu bastão. Bastão esse que agora não faz a menor idéia de onde esteja talvez esteja entre as diversas carcaças de demônios alados que se espalham por toda a areia do local. Não importa, o cajado teve sua utilidade, mas agora não passa de um pedaço de madeira.
Lembrou-se do cavaleiro negro que chegou pelo céu montando um dragonete morto-vivo. Não teve chance alguma de resistir, a magia do ser foi esplendidamente mais poderosa que a sua.
Esquadrinhando o local ao redor, percebe que está na praia ao lado do navio e ainda é noite. Felizmente, as chamas que o circulam são de destroços caídos e não do navio. Aparentemente, a resistente Nau ainda parece estar em condições de navegar. Reza à Deusa para estarem todos vivos no interior da embarcação. Fecha os olhos e respira fundo, fazendo uma brisa de vento erguer seu corpo no ar, levitando-o até o convés alguns metros acima de sua cabeça.
No convés do navio a cena de um massacre preenche seu campo de visão. Espalhados por todos os canto, mais das criaturas aladas caídas por todos os lados, junto aos corpos dos poucos soldados que não foram arremessados ao mar. Mas nem sinal de Lambech ou Lysolda.
Fechando novamente os olhos, implora a Deusa para que esse pressentimento no peito esteja errado.
Aproxima-se receoso das escadas do convés. Ali foi o último lugar onde lembra ter visto Lambech. Assim que seus olhos enxergam o vão de escadas, o elfo desce correndo até o interior do navio.
Deitado de bruços, Lambech estava com a placa peitoral de sua armadura completamente destruída, e apesar de não demonstrar nenhum ferimento nas costas, parecia estar completamente inconsciente.
Atrás dele, a resistente porta de carvalho estava completamente destruída, aparentemente por magia (ou por uma criatura de força desumana). O interior do quarto completamente vazio, um arrombo no lugar onde deveria haver a janela, com uma mesa completamente destruída.
_Deusa, oh, não...
Mas os lamentos de Sianodel são interrompidos por uma tosse rouca no canto do quarto. Movendo alguns escombros de cima de seu corpo, um soldado cospe uma poça de sangue no chão.
_Malkov?
_Eu não pude impedi-lo, senhor Lambech... Eu sinto muito...
O elfo se agacha para ajudar o soldado a se levantar:
_Malkov, eu sou Sianodel, o botânico... O que aconteceu aqui?
_O elfo... Oh, sim... Eu falhei, eu desonrei a Deusa e a Lambech, eu não evitei que o cavaleiro negro levasse a sacerdotisa... Eu sinto muito... - e outra poça de sangue sai da garganta do soldado, fazendo-o tossir mais um pouco.
_Ele a levou para a ilha – a voz trovoa atrás do elfo, fazendo-o se virar automaticamente. Lambech desprende de seu dorso os últimos pedaços da armadura que ainda estava presos, que caem no piso com um estrondo metálico. Ele estava sombriamente sério, bem mais que o normal. Caminhando até o baú da sacerdotisa, ele diz:
_O nome dele é Átila. Diz-se um Lich, um Necromante. Disse ter levado Lysolda para mostrar à Hyga que a Biblioteca está errada e o conhecimento deve ser de todos. Átila. Lembra-se desse nome. Botânico?
_Não... Espere. Átila. O fundador da Biblioteca.
_Mas a Biblioteca não foi fundada por Zion?
_Sim, mas as lendas não contam toda a história. Houve um co-fundador que foi expulso da Biblioteca após um combate com Zion. O combate que o deixou cego, há séculos atrás. Os registros de Zion apontam Átila como um traidor que tentou desvirtuar o conhecimento da Biblioteca e disseminá-lo através de seus estudos necromânticos. Os antigos dizem que Átila jurou retornar à Hyga e provar que Zion estava errado.
_E para onde foi esse tal Átila?
_Ninguém sabe. Ele nunca mais deu sinal de que ainda estava vivo.
_Pois ele levou Lysolda, a sacerdotisa, e nós vamos buscá-la sendo ele um mago milenar ou não... - Diz Lambech, abrindo o baú e retirando uma nova armadura para repor as partes dilaceradas pela espada de Átila.
Encaixando as partes no corpo, afivelando-as com raiva e sentindo o tórax doer à pressão da armadura. Da parede, retira um escudo de aço que ele manobra no ar com maestria. A espada é igualmente manipulada com perícia e embainhada com precisão.
_Não se culpe, Malkov. Terá a oportunidade de restaurar sua honra se vier comigo.
_Sem dúvidas, senhor. - Diz Malkov, erguendo-se com certa dificuldade.
_Pois nesse baú estão as minhas armaduras. Escolha a que melhor lhe convir e venha comigo.
Dizendo isso, Lambech caminha decidido em direção à porta do aposento, quando Sianodel o interrompe com um pesar na voz que fez o guardião parar bruscamente no primeiro degrau da escada.
_Nós não vamos resgatá-la, Lambech. Diz Sianodel parado na porta do quarto.
—Como disse elfo? Como assim nós não iremos resgatá-la?
—Lambech se realmente for Atila aquele cavaleiro negro não há como derrotá-lo, as ordens são de voltarmos e nomear uma nova Sacerdotisa, bem Lambech eu sei que é difícil para você, sempre fora assim, desde o inicio.
—Você sabe? Como pode saber elfo, tudo que lhe importa é esta maldita política, não se importa com Ly... A sacerdotisa. Quase ele deixa escapar, o pesadelo volta a lhe atormentar.
—Cavaleiro-Diz Sianodel com um olhar serio e paternal, como é doloroso para o elfo que tem mais de duzentos anos, mas ainda sim um jovem elfo, que sempre viu em Lysolda uma filha querida, e Lambech um amigo tão bom e amável, uma furtiva lagrima desce a face lisa do príncipe do império elfico, ele quer contar quem realmente é para o amigo, lembra-se que conheceu e conviveu com os pais de Lambech e Lysolda, Valeria mãe de Lambech à antiga sumo-sacerdotisa, lembra-se da felicidade dela, uma mulher de coragem e força, que Lambech herdara a fibra e coragem, nomeia Lysolda então com treze anos em seu leito de morte, lembra-se que chorou ao dizer ao pai dele a noticia que Valeria estava morta, ao entregar a tutela de Lambech que foi por ele moldado para ser hoje o mais poderoso guerreiro de Higa-Seu amor por Lysolda seria capaz de fazê-lo morrer, e mesmo assim esta disposto a pagar tal preço?
—Sim Sianodel, meu amigo me de uma esperança.
—Certo, não posso contra você assim como não podia contra sua mãe a quem tanto amei e da mesma forma amo você bom amigo, zarparemos e atracaremos distante da praia, você deve levar uma pederneira e um isqueiro—Sianodel entrega um pequeno enrolado de pele com um pavio-Ascende o pavio e se afaste e voltaremos para lhe buscar-Vocês não voltaram para Higa partiram em exilo para o império elfico, onde sou o príncipe herdeiro, mas advirto irei esperar duas ampulhetas da proa e depois partirei.
Lambech olha para o elfo, com olhar interrogativo, então Sianodel é o herdeiro dos elfos, lembra-se das palavras de Atila, ascende com a cabeça formal, como o elfo nunca gostou muito da emotividade humana, depois não resiste e abraça aos prantos o grande amigo príncipe dos elfos Sianodel.
Com alguns marujos que se esconderam no porão do navio, Sianodel zarpa ate um bom lugar para esperar Lambech, ele jamais esteve tão aflito.

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