domingo, 2 de novembro de 2008

Prólogo A Biblioteca

A espada corta o ar num zumbido de vento, atingindo a mesa de experimentos de Zion. O velho mago imortal esquivou-se como pôde, mas não conseguiu evitar que a espada de Átila dividisse sua mesa ao meio. À sua frente, empunhando a espada como um guerreiro, o poderoso necromante cintila no olhar um ódio devastador:
— Como pode querer me expulsar da Biblioteca, Zion, depois de tudo o que fiz em prol desse acervo e dessa fortaleza? – bravio Átila, trovejando sua voz como um deus enfurecido. Erguendo-se, Zion caminha calmamente em sua direção, criando na palma da mão estendida uma luminosidade amarelada:
— Subverteste nosso intuito, Átila. Essa fortaleza que chamamos Biblioteca foi criada para guardar todo o conhecimento que existe, não para disseminá-lo. O saber traz sofrimento e dor, não percebe? A ignorância é e sempre será o melhor caminho para a felicidade.
Os olhos negros de Átila brilham. Por um segundo, Zion recua. Sabe que o amigo desenvolveu o poder e pretende usa-lo para fins próprios.
— O conhecimento que encerras aqui é poder, Zion. Não irá guardá-lo apenas para si.
— Suas intenções não são nobres, Átila.
— E o que é nobre para ti, caro mago? Trancar numa fortaleza todo o poder do mundo?
— Ao menos assim os povos seguirão em paz, necromante. A ganância pelo poder leva o homem a explorar mundos além de sua alçada.
— Então é isso que temes? Que os povos saiam desse minúsculo pedaço de terra decadente e conheça outros lugares? Teme não poder aguardar em sua Biblioteca o conhecimento que está por vir? – grita Átila, golpeando sua espada com força desumana. Esquivando-se a muito custo, Zion lança feixes de luz em direção ao antigo colega, acertando sua espada. A pesada lâmina gira no ar e bate violentamente contra a parede da sala.
Zion se aproxima do amigo caído, energizando um enorme foco de luz na palma da mão direita:
— Seu culto ao poder e a destruição não são mais bem-vindos em minha Biblioteca, Átila. Suma de minha frente ou farei de você um mago morto.
Rangendo os dentes de raiva, Átila mais uma vez aquece o tom dos olhos com uma ameaçadora energia negra.
— Vou além desse mundo, Zion. E o mundo pagará pelo seu erro. Guarde essas palavras.
E antes de desaparecer no ar, Átila invoca palavras que Zion conhece muito bem. Palavras poderosas que fizeram o ar da sala explodir numa grande luz branca, mas que depois deixou tudo negro como à noite.
O poderoso mago imortal estava cego para todo o sempre.
A última visão que os olhos de Zion tiveram foi o rosto enfurecido de Átila, jurando vingança por ter sido expulso da Biblioteca que ajudou a construir.
Zion senta-se no chão, tentando acostumar-se com seu novo estado e encontrar os destroços de sua mesa. Achando-a, procura por um antigo livro que conhece muito bem. O livro das profecias.
Tateando sua tão familiar sala de leitura, senta-se numa outra mesa de canto, conjurando mentalmente a presença de uma de suas criaturas mágicas.
Em poucos instantes, Zion sente a presença de seu amigo fiel, um construto de luz e fogo.
— Reúna o Conselho, elemental do fogo. Temos um grande problema. Diga a eles que nossa Biblioteca deverá ser fortalecida e ninguém jamais deverá ter acesso a essas estantes. O poder que habita esses livros é prejudicial a todos que caminham sobre a terra.

Isso foi á mais de mil anos.

Um comentário:

Old Fel disse...

Gostei, vou ler um pedaço por dia. Hehehe

Parece ser um conto bem interessante. Até mais.